Desembargadores comprados

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

14 mil vetos a doaçao de orgaos! Por que?

A resposta é simples. Falta transparencia e o sistema de transplantes brasileiros é completamente sujo. Nao respeitam as leis, as filas e sempre, sempre ha desvios de orgaos. Apesar disso, as pessoas e organizaçoes envolvidas neste processo insistem em lutar pela impunidade e impor a mentira. Mas o brasileiro ja aprendeu que nem tudo é o que parece ser. Alias, no Brasil, nada é o que parece ser. E ai esta o resultado. Quem se informa, nao doa.

Um fator interessante para o veto é aquele apontado pelo medico Tadeu Thomé, membro da ABTO:
Muitas vezes, o paciente encontra o pronto-socorro lotado, com falta de médicos e de leitos, e se vê abandonado. De repente, o parente tem morte cerebral, aí vem o médico, com mais calma e tempo, conversar com ele sobre a possibilidade de doação, e ele se revolta. Por que só naquele momento, quando não há mais nada a fazer, é que o acolheram? Depois disso, a chance de um não é bem maior do que a de um sim
Entenderam? A estrutura existe so para te acolher depois de morto. Quem disse isso foi um membro da ABTO. Enquanto vivo, voce nao tem leito, remedios e medicos e é um mero ze ninguem. Para um sistema de saude que diz salvar vidas, nao é estranho que a vida do doador nao importa? Voce sabe o quanto estao investindo em transplantes todos os anos e quanto estao investindo em novos leitos de UTIs?

Tenha em mente que o transplante de orgaos hoje é um grande negocio que movimenta milhoes e milhoes de reais. A unica coisa que nao estao interessados é em salvar vidas, e sim nestes milhoes que estao rodando todos os anos em torno deste assunto.

O outro problema dos vetos, é a impunidade

Vale como sempre, lembrar duas situaçoes emblematicas sobre crimes envolvendo transplantes no Brasil. O primeiro é o caso de Taubate onde pelo menos 4 pessoas foram assassinadas para fins de trafico de orgaos. Na epoca, quem pagava para receber os orgaos das vitimas, era nada mais, nada menos, que o presidente da Associaçao Brasileira de Transplantes de Orgaos, na epoca, Emil Sabbaga. Isto esta descrito no processo e foi relatado na CPI de 2004. Porem, nunca este senhor foi investigado. Criou-se uma blindagem para que ele nao fosse punido e acima de tudo, para que continuasse a realizar transplantes particulares sem respeitar a lei. O caso deve ir a julgamento so no ano 2012, mais de 23 anos depois dos assassinatos. 

O segundo caso é o do meu filho e outras 8 vitimas, todas assassinadas para fins de trafico de orgaos, em Poços de Caldas. Uma mafia criada por um politico mineiro renomado e influente, Carlos Mosconi, mantinha uma central de transplantes clandestina, uma associaçao de renais cronicos e o consultorio do principal acusado, tudo no mesmo andar de um predio ao lado do hospital da Santa Casa. O caso aconteceu ha mais de 10 anos e o julgamento ainda nao foi marcado. No caso de Poços, as vitimas foram desmembradas em diversos processos para que ficasse mais facil de abafar caso a caso. Paulinho é o unico que se tem noticias. Os demais casos talvez tenham sido arquivados. Nem mesmo o nome das vitimas foram divulgados, mas tais informaçoes constam no relatorio final da CPI de 2004.

No caso de Poços de Caldas, o principal acusado Alavaro Ianhez, esta trabalhando pelo SUS em Manaus, onde faz parte da equipe de transplantes daquele estado, que recentemente começou a transplantar com cadaveres. Certamente sera um sucesso! Ianhez, na epoca dos acontecimentos, tinha na ABTO um grande aliado. Seu irmao. O irmado de Ianhez era conselheiro consultivo da ABTO na epoca. Talvez seja por isso que outros grandes nomes dos transplantes como Valter Duro Garcia e Jose Osmar Medina (ambos ja ocuparam a vaga de presidente da instituiçao) sejam testemunhas de defesa de Ianhez no processo.

Por tudo isso, nao se pode confiar na tal "lisura" do sistema. Eu apresento estes dois casos que por um esforço muito grande ocuparam espaços na midia. Mas como estes existem centenas cujas familias sequer imaginam o que de fato aconteceu com seus entes queridos.

O assassinato de doadores é sistematico e acontece na maioria das vezes em hospitais publicos. E' muito dificil que uma familia consiga provas desta pratica. Ainda que obtenham provas, existe uma mafia organizada para que tudo isto nao venha a tona, para nao "atrapalhar" as doaçoes de orgaos. Afinal, uma familia honesta e decente, quando sabe destas situaçoes, obviamente deixa de doar orgaos. 

Como sempre, no Brasil, tudo é invertido. A culpa é da vitima, e o assassino é o coitado. Quem denuncia é acusado de ter problemas mentais para que as suas denuncias nao ganhem força. O acusado é sempre aquele que dedicou sua vida a salvar vidas e agora esta na lama graças a um demente. 

Faça um teste! Peça para que algum medico realize um transplante e abra mao do pagamento do SUS! Se ele quer mesmo dedicar a sua vida salvando outras, ele aceitara. Caso contrario, ficara claro que o unico interesse é a gorda quantia que o SUS paga por cirurgia. Alias, estes valores nao sao divulgados. Por que sera?

Indiferente a todas estas evidencias, que possuem provas e estao em tribunais, é muito provavel que ninguem venha a ser condenado. O argumento é sempre o mesmo. Seria uma tragedia para a doaçao de orgaos, se os doadores soubessem que tem medicos sendo condenados por matar pacientes e vender seus orgaos. No Brasil, os fins justificam os meios. Por isso o pais esta atolado em corrupçao. Ou sera que vao desmentir isso tambem?

E a indiferença se ve tambem na reportagem que fala sobre o veto a 14 mil doaçoes, publicado pela Gazeta do Povo. O roteiro é o mesmo de sempre. Começa com uma historia, com uma foto em anexo e depoimentos de pessoas desesperadas para obter um orgao. Depois, entre alguem de peso para desmoralizar o que esta nos tribunais. E como sempre, estou aqui para contestar tudo, como deve ser contestado.

Entao, ai vai o trecho que interessa. Trata-se do quadro "Mitos", publicado na mesma pagina do jornal.

MITO 1
- O doador sofre mutilação: Não. O procedimento não altera a aparência física. O corpo é costurado no próprio hospital e o transplante não é notado na hora do velório.
Acredite. A coisa menos importante nesta hora é se o doador sera desconfigurado ou nao. Dificilmente isto acontece porque nao mexem no rosto. Ja o corpo é preenchido com serragem ou coisas do genero para dar a impressao de que esta tudo preenchido. 

MITO 2
- O órgão pode ser comercializado: As chances são nulas, pois o traficante não teria nenhuma garantia de que o órgão vendido teria compatibilidade na pessoa que o comprou, o que afetaria a credibilidade do "negócio" em pouco tempo. Além disso, o transporte é complexo e a vida útil de um órgão fora do corpo é de apenas poucas horas.
Os orgaos podem sim ser comercializados. Ha relatos no mundo todo sobre a venda de orgaos. Por que no Brasil nao seria possivel? O argumento utilizado é fraco e sugere que alguem furte um orgao de dentro de um corpo e saia por ai oferecendo a alguem que precisa. Obviamente que nao é assim que as coisas funcionam. 

Vamos usar a inteligencia? 

Como funciona na pratica:

Quando alguem quer comprar um orgao, nao vai a um medico e recebe o implante no dia seguinte. Ele passa a fazer parte de uma lista paralela que tera prioridade para receber o orgao. 

A pessoa que esta a espera de um orgao faz todos os testes de compatibilidade para se inscrever na lista de espera unica, do SUS. Isto é lei! O resultado deste exame, no entanto, vai para a mao de um medico. Logo, este medico pode ter uma lista paralela de pessoas que esperam por um orgao com todos os resultados de testes de compatibilidades. O procedimento é o mesmo do SUS! 

Quando alguem morre e se torna doador tambem é testada e o resultado passa a ser confrontado com alguma lista. Pode ser a do SUS ou pode ser a de uma lista particular. Se na lista particular existir alguem compativel, o orgao que deveria ir para a fila do SUS é desviado para este paciente que pagara cerca de 50 mil reais para obte-lo. Este procedimento é mais comum do que muitos imaginam. Existem verdadeiros esquemas de distribuiçao paralela dos orgaos que no Brasil, nenhuma autoridade tem coragem de afrontar.

O desrespeito as filas foi relatado inclusive por uma auditoria do TCU em 2005, que confirmou a inexistencia de qualquer controle sobre os dados, o que facilitaria a busca em lista paralelas de pessoas que esperam por um orgao.

MITO 3
- O diagnóstico de morte encefálica não é preciso: Os exames de confirmação de morte encefálica são precisos, seguros e reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina. São realizados no mínimo duas vezes, a cada 12 horas, e por profissionais capacitados. É direito do familiar contratar médicos que façam uma avaliação particular, para afastar a dúvida.
Para rebater este "mito" vou citar algo que esta inclusive nos relatorios da CPI de 2004. Existem medicos que sequer conhecem a legislaçao sobre o assunto e estao fazendo diagnostico de morte encefalica. Alem disso, o procedimento, por mais que seja feito com segurança esta longe de ser seguro. Ha na imprensa mundial e tambem na imprensa brasileira varios casos de pessoas que foram diagnosticadas mortas e acordaram em pleno velorio. Basta citar o caso de pessoas que possuem catalepsia. Sao pessoas que correm o risco inclusive de serem enterradas vivas pois a medicina moderna ainda nao é capaz de detecta-la. Logo, a morte ainda é um misterio para a medicina e isto é fato. Existe hoje em todo o mundo dezenas de associaçoes preocupadas com o tal diagnostico. E nao sao pessoas sem qualificaçao. Estas associaçoes sao formadas em grande maioria por medicos.

MITO 4
- Terei de pagar pelo procedimento de retirada dos órgãos: De forma alguma. O transplante é totalmente custeado pelo SUS e qualquer forma de cobrança é crime e deve ser denunciada.

Para este "mito" a explicaçao é bastante precisa. O caso do meu filho começou porque me obrigaram a pagar todo o procedimento de transplantes. Ao denunciar o fato, foi descoberto que a equipe fazia até internaçoes falsas para que o SUS mandasse mais dinheiro. Digamos que este nao é um procedimento que esperamos de quem diz salvar vidas. Apos comprovar a cobrança indevida, foi descoberto o homicidio, pois Paulinho  (10 anos) estava vivo quando seus orgaos foram retirados. Entao, organizaçoes como a ABTO e Ministerio da Saude, percebendo a gravidade dos fatos e o rumo que isso poderia ter, decidiram que o assunto deveria ser abafado. Lutei muito para que isso nao acontecesse, e em 2004 consegui instalar a CPI do Trafico de Orgaos que comprovou todas as denuncias.

O relatorio final foi enviado pela CPI ao Procurador Geral da Republica, indiciando varios medicos. O Procurador, na epoca, respondeu que nao faria nada porque ele possui autonomia para decidir o que fazer, ainda que os casos ali tivessem provas incontestaveis. E assim sendo, o relatorio esta paralisado em qualquer gaveta até hoje (7 anos depois). Por isso fica dificil acreditar em alguma puniçao para quem vende orgaos e matam pacientes.

Diante de tantos absurdos, faça pela sua segurança. Nao doe orgaos até que os casos acima sejam solucionados e o sistema seja transparente. Ha varias formas que podem ser implantadas para que nao seja possivel o trafico de orgaos. Enquanto houver trafico de orgaos, havera a possibilidade de assassinatos em UTIs publicas para estes fins. Estes casos estao sendo arrastados ha anos na justiça para que nao haja nenhum desfecho e nenhum puniçao. Nao seja mais um idiota a acreditar no sistema como eu acreditei um dia.

Vete a doaçao. Diga NAO!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ninguem quer falar, mas eu falo.



Trata-se do caso da estudante Luana Neves Ribeiro que decidiu doar a medula e faleceu depois do procedimento. Fatalidades acontecem nao é mesmo? Acontecem, mas nao é tao simples assim. Alias, nao pode ser tao simples assim.
O hospital disse que o fato está sendo apurado e que um laudo com a causa da morte deve ser emitido nesta quarta-feira. De acordo com a família, uma necropsia apontou uma hemorragia não detectada por exames feitos após a colocação do tubo. 
Hemorragia nao é uma fatalidade. Pode ser um erro. Mas agora é hora do hospital limpar a barra e o caso ser abafado para que nao "atrapalhe" as doaçoes de medula. O importante é que isso tudo nao pode parar. Nem mesmo para entender o que aconteceu com Luana, punir provaveis responsaveis (implica em admitir erros), e ao menos, indenizar a familia.

Mas por que estamos preocupados com a morte dela? Veja o que diz o medico:
Há gente que morre após anestesia. Não é comum, mas pode ocorrer. Foi uma fatalidade.
Entenderam? Tem gente que morre de velhice! Acontece!
A cunhada da jovem diz que Luana fez todos os exames antes da doação e foi considerada apta. "Ela estava superfeliz de ajudar." O paciente que seria transplantado deve receber a medula de um novo doador --morador de Campinas (93 km de São Paulo)-- ainda nesta semana. De acordo com o coordenador do Redome, após a morte da jovem o paciente ficou com a saúde em risco, já que estava recebendo medicação para o transplante. "Agora, é preciso salvá-lo." 
Percebe-se a grande preocupaçao em salvar o paciente, ja que a doadora morreu. Nao ha nenhuma preocupaçao com a vida interrompida da doadora. So mesmo a do paciente. Ok! Ela esta morta, nao ha nada a fazer.

E o que mais chamou a minha atençao é que sempre ouvimos dizer que é muito dificil um doador de medula ser compativel. A chance é pequena. Mas para o paciente de Campinas, mesmo que tenha perdido uma doadora, ja tem outro disponivel.

Por que a vida do paciente é tao mais importante que a do doador?

Basta verificar o quanto ganham os medicos por cada cirurgia e entenderao por que vale tanto a vida do paciente e tao pouco a vida do doador.