Desembargadores comprados

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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Respondendo a um comentario feito no Blog

O comentario abaixo é bastante interessante e decidi responde-lo na forma de outro post. Trata-se da mae de uma garotinha que recebeu um implante de coraçao.
"Não, eu não vou fazer campanha. Eu concordo planamente com o caus da saúde pública. Mas como vc mesmo disse que gostaria de saber como estão vivendo pacientes transplantados, vou lhe contar... Minha filha Alicia de 3 anos é transplantada de coração há 2 anos e está muito bem, não pelo transplante em si, mas também pelos cuidados que eu como mãe tomo para manter sua saúde. o transplante não é a cura de uma doença, pois vc vive em tratamento pelo resto de sua vida, mas com certeza há uma melhora significativa no quadro geral. Eu sou defensora da doação porque senti na pele a dor de quase perder minha filha. mas vc como ser humano tem todo direito de expressar sua opnião. Boa noite!".
Cara mae.

Antes de mais nada, faço votos de que sua filha se recupere cada vez mais, e que tenha a chance de um dia encontrar defitivamente a soluçao para o problema. Quem sabe um dia as pesquisas com celulas tronco  - que parecem estar sofrendo barreiras para avançar - consigam evitar os transplantes?

No seu lugar, eu talvez estivesse apoiando as campanhas de doaçao de orgaos. De fato eu nao senti na pele a sua dor de QUASE perder uma filha. Eu senti na pele a dor de PERDER um filho, assassinado, para alguem nao sentisse o que voce sentiu. E se tivesse sido o contrario? Se fosse a sua filha assassinada para salvar outra pessoa, estaria apoiando a doaçao de orgaos? Voce é capaz de responder a esta pergunta?

Desculpe-me, mas nao aceito ser julgado por expressar o que penso. Continuarei sempre defendendo que a doaçao de orgaos é uma farsa e que tem rendido milhoes a cirurgioes transplantistas, cuja eficiencia precisa ser questionada.

O fato de sua filha estar bem apos 2 anos do transplante, deve ser comemorado. Porem, isto pode nao ser a regra. Pode ser uma exceçao. Quando falo em saber como esta a vida dos transplantados, nao falo em resultados imediatistas. Tais dados sao podem ser considerados para analise por se tratar de uma cirurgia recente. Quero saber dados de pacientes que receberam orgaos 10, 15, 20 anos atras. Quero saber quantos deles superaram os 5 primeiros anos. Quero saber quantos deles foram retransplantados e quantos infelizmente morreram. E por uma infelicidade, mais sua do que minha, estes dados simplesmente nao existem.

O Ministerio da Saude este ano esta usando a imagem de um garoto que recebeu um implante de coraçao aos 7 meses de idade, e que esta comemorando 7 anos. Mas quantos existem como ele?

Patrick Hora Alves, de 10 anos, faleceu quase um mes apos receber o implante de um coraçao, e a historia dele nao é contada nos jornais. Nao faz parte da biblioteca dos transplantistas. Quando vamos olhar para o assunto de forma ampla e abrangente? Ou vamos continuar publicando somente os casos que interessam?

O que precisamos descobrir é quantos estao morrendo apos um transplante de orgaos?

O Brasil ja demonstrou nao ter assistencia basica de saude. Sera que os transplantados estao recebendo a atençao necessaria? Sera que todos os transplantados tem a mesma sorte da sua filha? Por que estes dados nao sao divulgados? Por que nao se fala em cirurgias que nao deram certo?

Estes dados sao importantes para voce, se é que nao percebeu ainda.
Mais importante que a doaçao de orgaos é saber se o transplante esta sendo o sucesso tao propagado.

Norton Nascimento virou garoto propaganda apos o implante. Ao morrer, tres anos depois, foi esquecido. Ninguem mais falou da cirurgia que fez e o que o levou a morte.

Se voce nao é capaz de entender isso, so me resta lamentar.
Desejo muito sucesso a sua filha e que tudo corra bem.
Quando aceitei doar o meu filho, pensei justamente em crianças como ela.

Um comentário:

Lia/Fpolis disse...

Que mulher egoísta! Imagino quanto deve ter rezado para que outra criança SAUDÁVEL morresse prematuramente para servir de carcaça para o canibalismo de peças para transplantes. Como pode dormir sem drama de consciência? Será que já fez documento de doação dos demais órgãos da filha, casa ela venha a falecer? Porque nada impede transplantado de morrer até de tiro ou acidente. Mesmo que morra de doença SEMPRE se pode tirar córneas, pele, ossos e dentes. Ou dar o corpo todo para estudos, já que se beneficiou de tais avanços.

Ela não vai dar o corpo da filha, vai enterrar tudo de forma bem egoísta bem no estilo 'se a minha não vive outros também não'.

Mas não só de órgãos para 'salvar vidas', Paulo, andam nossos doutores 'revalidados',fazendo campanhas... Na FMJ, Jundiaí, SP, está em marcha uma campanha de doação de corpos para as faculdades de Medicina. Nem vou entrar no caso do sanatório de MG, aquele, que foi o Holocausto brasileiro. Alega, o diretor, que faltam corpos para que os estudantes aprendam e pratiquem em órgãos verdadeiros e não de plástico ou simulação virtual. Muito bem, nobre não? Mas a pergunta que não quer calar e que recomendei ao repórter que fizer entrevista de novo é:
— Doutor, o senhor já assinou em cartório a doação de seu corpo para a faculdade onde estudou e/ou trabalha? Pode mostrar o documento? Idem para todos os seus familiares, parentes próximos ou distantes, e amigos? quantos deles já morreram e enterraram os corpos, ou cremaram, em vez de doar para estudos?
Pois é... Vejo aí uma questão moral, mais do que econômica, já que não faturarão pelos transplantes que não haverão, óbvio, nos cadáveres de estudo. Antes de pedir aos outros que sejam doadores, de órgãos ou corpos, os médicos e demais profissionais da Saúde não deveriam ser os primeiros a dar o exemplo? Vou mais longe:deveriam ser obrigados a doar deles e de parentes, caso tenham estudado em escolas públicas, as melhores faculdades de Medicina são as públicas. Nunca vi médico doar nada, salvo o que doou o coração para o ator Norton, ele era médico e o pai doou apenas porque era para o Norton! Fora disso não conheço, são raros os doadores de sangue e medula! De órgãos e do corpo não sei de nenhum caso no Brasil. Médicos deveriam, por dever de ofício, ter no carimbo e no jaleco a palavra 'doador' junto do registro no CRM.
Não o fazem, querem apenas que os corpos dos outros, em geral pobres, sirvam de desmanche de peças.

O jogador Sócrates estava em estado crítico, precisava de um fígado urgentemente, mas teve a dignidade de não usar de influências para passar na frente na fila de doentes graves, acabou não conseguindo esperar. Não sei se os parentes são doadores de alguma coisa.
Conheci de perto uma caso de renal crônico, diálise 3 vezes por semana, senhor pai de uma amiga, na época nem tão velho que não valesse a pena tentar o transplante. Não quis fazer. Nem com rim da filha única, nem da esposa, nem dos parentes. Sequer foi rastreada a compatibilidade. Fez a diálise até quando foi possível e depois faleceu com a dignidade que todos deveríamos encarar a única coisa certa que nos espera: a morte. Mais cedo ou mais tarde, que seja tão tarde quanto possível, mas terá de acontecer. Não é justo que para uns tenha de ser tão cedo só para que outros possa ser mais tarde. Aposto e defendo a ideia de muito investimento em remédios, pesquisas de cura e prevenção, até de órgãos artificiais e derivados de células-troncos. Querer que outro morra para poder viver é de uma perversidade atroz, é canibalismo travestido de bondade. Não sei se quem se beneficia do órgão merece viver mais tanto assim.