Não faz muito tempo, um enorme escândalo envolvendo pessoas de conduta ilibada do palácio do planalto tomou as páginas dos jornais e o tempo da maioria das emissoras de televisão. Tudo não passou de uma grande conspiração para destituir os trabalhadores do poder, perseguidos à décadas por uma elite burguesa. Tudo bem que a elite burguesa estava longe deste escândalo, mas alguém precisava ser culpado.
O Presidente da república, não viu nada, não sabia de nada, não fez nada. Aliás, ninguém fez nada. Foram milhões pela latrina da corrupção que ninguém viu, ninguém pegou, ninguém pôs as mãos.
O episódio abriu o lastro das imaginações férteis pelo país. Roubar, cometer crimes, sair da linha, deixou de ser um problema do estado e passou a ser um problema da sociedade. O próprio presidente justificou a violência como sendo "muitas vezes uma questão de sobrevivência".
Sendo assim, várias pessoas atingidas pelo mal do flagrante (doença comum nos dias de hoje no Brasil) - bem inferiores aos do partido do presidente é verdade - adotaram as posturas veículadas por meses na imprensa brasileira. Dos mais famosos aos mais comuns, todos os flagrados possuem um discurso que em minutos, reverte a cena bizarra a que está inserido em um bestial e inocente conto de fadas.
A divulgação massiva dos escândalos, não provocou a punição dos mesmos. Ao contrário. Foi uma cartilha para analfabetos do crime, que estão aprendendo os primeiros passos. E parece que tiveram bons professores.
Meu filho foi assassinado por médicos de transplantes. Possuíam uma rede de distribuição de córneas clandestina, e retiravam os órgãos de pacientes sem morte encefálica. Os órgãos eram enviados para pacientes particulares, fora da fila de transplantes, implantados também em hospitais e clínicas particulares. Em consultórios médicos, aprenderam listas de espera para transplantes particulares. Exames e documentos desapareceram do prontuário e diversos outros documentos foram produzidos para encobrir o crime. A central de transplantes nunca existiu formalmente e mesmo assim, recebia do Ministério da Saúde pelos transplantes realizados.
Alegam até hoje que tudo foi uma tremenda confusão e que nada de errado fizeram. Outras denúncias contra o mesmo grupo vieram, e todos foram abafadas com a mesma histórinha incrédula, que estranhamente é bem aceita pelas nossas autoridades.
Foi assim também com os bispos da igreja Renascer em Cristo. Presos, os bispos tentavam entrar nos EUA com U$ 56,5 mil em dinheiro, mas declararam somente U$ 9 mil. Este flagrante revelou à todos que mesmo estando com bens e contas bancárias bloqueadas desde setembro do ano passado - por decisão do juiz da 1ª Vara Criminal -, o casal continou a movimentar muito dinheiro sem quaisquer obstáculos. Foram pegos nos EUA, já que no Brasil ninguém pega nada.
A desculpa é a mais grotesca possível, mas invade os corações hipnotizados dos fiés da igreja: “artimanha do demônio” para “derrubar o povo de Deus” e “destruir a construção de uma nação evangélica”, pasmem.
Quem não se lembra do homem pego com a cueca forrada de dólares? Ele alegou que era fruto das vendas de vegetais. Talvez estivesse certo. Se os vegetais fossem maconha, seria uma boa explicação.
Recentemente, um assessor parlamentar foi pego em uma blitz, com uma malinha cheia de dólares. Esperto, imediatamente afirmou: "Este dinheiro é produto da venda de um carro!". Pensou um pouquinho e percebeu que daria para comprar mais do que um carro, e remendou: "Não! É produto da venda de 3 carros!".
Mais algum tempo de investigação, terá vendido uma frota inteira. De qualquer forma, o crime que ele praticou virou história de ninar.
"Era uma vez um homem vendeu 3 carros e sozinho viajou com uma maleta cheia de dinheiro... e foi feliz para sempre."
Nesta semana, foram dois os casos que chamaram a atenção.
O primeiro envolvendo a jornalista Marcela Troiano. A jovem foi pega em flagrante com 20 comprimidos de ecstasy, 17 micropontos de LSD e 2 frascos de lança perfume. É importante ressaltar que os 17 micropontos de LSD e os 2 frascos de lança perfume, estavam no chão e não na bolsa, como os 20 comprimidos de ecstasy. Graças a um comunicado da mãe, divulgado à imprensa, o caso foi esclarecido:
"O que houve foi uma grande confusão e nossos advogados estão trabalhando para provar sua inocência".
A nota distribuída pela imprensa ainda garantia: "a jornalista não está presa".
Apesar de não ter estar "presa", os advogados da família já impetraram habeas corpus e obtiveram sucesso. Marcela está livre, e está ainda superando o trauma de ter um flagrante absolutamente confuso.
Já o segundo caso, envolve o rabino Henry Sobel. Apanhado em flagrante por uma câmera de segurança, o líder da comunidade judáica de São Paulo foi preso nos EUA ao colocar de forma despropositada uma gravata no bolso de sua calça e deixar a loja sem pagar. No carro do rabino, outras gravatas de grife e preços bastante conhecidos foram encontrados.
À imprensa, Sobel negou ter sido preso. Mas no decorrer da semana, as divulgações não deixaram dúvidas. Sobel chegou a negar que a foto veículada era dele, e que a história que a imprensa americana estava contando era apenas um grande mal entendido.
“Jamais tive a intenção de furtar qualquer objeto em toda a minha vida. Pessoalmente, estou habituado a enfrentar crises e acusações de que posso me defender. Só não posso admitir que tentem desqualificar os valores morais que sempre defendi”.
Avisado de que havia sido filmado pela câmera da loja, ele então admitiu ter furtado a gravata e se ofereceu a pagá-la. O rabino levou o policial até seu carro, onde o item estava guardado. Em uma sacola, a polícia encontrou gravatas das marcas Louis Vuitton, Giorgio´s, Gucci e Giorgio Armani, que Sobel admitiu também terem sido roubadas. Coincidentemente, Henry Sobel foi levado para a mesma prisão onde ficaram os bispos Sônia e Estevam.
Nesta madrugada, longe dos olhares dos repórteres mais famintos, Sobel internou-se no hospital Albert Einstein, vítima de "episódio de transtorno de humor, representado por descontrole emocional e alterações de comportamento". Os médicos ainda atestam que ele "estava sob tratamento medicamentoso e, por insônia severa, e vinha fazendo uso imoderado de hipnóticos diazepínicos, causadores potenciais de quadros de confusão mental e amnésia". Mas não explicaram como uma pessoa nestas condições teve permissão médica para viajar.
Fica esclarecida então toda esta confusão envolvendo o rabino. É verdade que poderia ser pior.
Se os medicamentos fossem mais fortes, poderia ter roubado gravatas sem marcas e baratas.
Vejo que precisamos imediatamente controlar a polícia deste país que vêm criando situações ilusórias e colocando os protagonistas em condições vexatórias, sem motivo algum. Enganos e conluios demoníacos devem ser as metas de treinamento da polícia para os próximos anos.
Precisamos separar o joio do trigo.
O trigo é pobre, o joio é rico.
Trigo se tritura, joio se preserva.
Por sorte, nossa justiça está apta a restaurar as confusões e estabelecer a verdade dos fatos.
Uma senhora com câncer cumpria sua pena por tráfico de drogas em uma prisão em São Paulo, e era doente terminal de câncer. Não conseguiu obter habeas corpus ou autorização para morrer em casa. Pesando 40 e poucos quilos, a justiça a manteve presa - sem direitos - como todo traficante deve ser mantido. Depois de muitos pedidos e lamentações, a justiça permitiu que a traficante morresse em casa.
Quem não se lembra do Buba - ex BBB, pego com 18 comprimidos de ecstasy? Buba ficou preso e antes de ser julgado morreu de câncer. De qualquer forma, Buba não obteve habeas corpus tão rapidamente quanto Marcela e portava menos ecstasy do que ela. Buba ficou preso por vários meses.
Os próximos boletins médicos do Albert Einstein devem nos esclarecer que Sobel sequer sabia que estava nos EUA. O distúrbio levou o rabino à um aeroporto por engano. Ele teria saído para comprar pão, e horas (muitas horas depois) percebeu-se nos EUA e diante das lojas de grife, resolveu parar para roubar umas gravatas. Algo totalmente sensato e de fácil compreensão, para quem estava completamente fora de si.
Um comentário:
A inversão de valores é total.
Aliás, "valores" ? Acho que eles desconhecem essa palavra, ou melhor, só a conhecem no sentido monetário, e não no sentido moral e ético.
Realmente, transgressores são os que dizem a verdade e os que buscam justiça. Estes tem seus direitos ignorados, são atacados, e até perseguidos em todos os sentidos.
Às vezes me pego pensando: "O que a HISTORIA dirá de nós ? Dos nossos tempos ? O que constará nos livros didáticos ?"
Nâo consigo imaginar quão absurdo serão tais livros e como os professores darão aula.
Isto se ainda existirem escolas no moldes que conhecemos - ou que gostaríamos de ter, porque hoje elas já não ensinam a verdade.
O que dirão às nossas crianças ??
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