Quem não se lembra da reportagem da revista GALILEU, publicada em agosto, quando um "jornalista" fez uma extensa reportagem concluindo que no Brasil é mito que pessoas sejam assassinadas para fins de tráfico de órgãos. Clique aqui para ler. Omitindo fatos importantes e resultados de processos judiciais, a conclusão da reportagem tranquiliza a todos... todos os tranplantistas que traficam órgãos ou furam filas.
Pouco depois de eu ter reclamado, o jornalista me enviou um e-mail dizendo que o caso Paulinho, por exemplo, assassinado para fins de tráfico de órgãos, constava na versão original da matéria, mas foi cortado por falta de espaço.
A matéria também ignorou os 4 assassinatos de Taubaté cujo processo de homicídio dos doadores ficou 20 anos na justiça e terminou sem uma sentença.
Ignorou também as outras 8 vítimas assassinadas em Poços de Caldas, pelo mesmo grupo, para o mesmo fim, cujos processos de homicídio, depois de 7 anos, foram reiniciados em um tribunal comandado pela máfia.
Devo ressaltar que no processo que julga o homicídio de Paulinho, o presidente da ABTO Valter Duro Garcia é testemunha de defesa do principal assassino, e para ele, a revista não lhe poupou espaço.
Mas por que a imprensa faz isso?
A imprensa brasileira tem um "código de ética", não impresso em papel, onde assuntos como o suicídio e o tráfico de órgãos devem ser abordados com cuidado, e recomendam que seria melhor se fossem ignorados. No entanto, com muita frequência, os jornais divulgam notícias de transplantes bem sucedidos, eventos que incentivam a doação de órgãos, campanhas sobre doação e enfim, todo o lado romantico com grande conteúdo emocional. Enquanto a imprensa implora por doação de órgãos, o sistema de transplante desperdiça - segundo esta mesma imprensa - 70% das doações.
Mas a verdade, você não vai ler com tanta frequência. Façamos um teste:
- Você se lembra que o TCU realizou uma auditoria em 2005 e constatou que a fila de transplantes era uma farsa?
- Você se lembra de ter lido algo nos jornais como Folha de S.Paulo, ou O Estadão sobre a CPI DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS, onde pelo menos 3 nomes de pessoas que ocuparam o cargo de presidente da ABTO tenham sido citadas por furarem a fila ou traficarem órgãos de pessoas assassinadas?
Hummm. Não né?
O jornalista que levar a fundo uma investigação, estará perdendo tempo. Ainda que comprove alguma coisa, poderá ter a sua reportagem bloqueada. E mais. Se insistir no assunto poderá perder o emprego.
Mas agora (e não sei desde quando), é possível unir o útil ao agradável. O governo Lula está fazendo escola. O negócio é comprar os jornalistas!
Se você é jornalista, ou estudante de jornalismo, pode ganhar uma graninha falando bem dos transplantes. A ABTO - maior interessada - está premiando jornalistas com dinheiro. Trata-se do PRÊMIO ABTO DE JORNALISMO.
O PRÊMIO ABTO DE JORNALISMO é um concurso jornalístico criado pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS (ABTO), com apoio institucional da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), para premiar trabalhos veiculados na imprensa nacional relativos à Doação e Transplante de Órgãos, Células e Tecidos no Brasil.Poderão ser inscritas no PRÊMIO ABTO DE JORNALISMO matérias divulgadas nos veículos de comunicação de jornalismo impresso, radiojornalismo, telejornalismo, e webjornalismo, editadas no Brasil e assinadas por jornalistas e estudantes de jornalismo, brasileiros ou estrangeiros residentes no país, que forem veiculadas no período de 1º de fevereiro a 31 de dezembro de 2009. As matérias/reportagens deverão ser necessariamente editadas em português.
Mas lembrem-se que não é qualquer um que pode escrever.
Para efetuar a inscrição, é obrigatória a apresentação do Registro Profissional de Jornalista (DRT). O mesmo vale para os estudantes, que devem comprovar sua condição através de documento oficial expedido pela instituição acadêmica onde realizam seu curso superior.
A idéia é encher todos os meios de comunicação com o assunto "doação de órgãos". Em todo lugar que couber uma frase, que ela seja "DOE SEUS ÓRGÃOS".
De preferência, que não sobrem espaços para falar de asilados brasileiros na Itália que denunciaram a máfia e tiveram que sair do País para continuar vivendo em paz e com segurança.
Eu gostaria de ver um dia um concurso diferente com o tema "COMO EVITAR OS TRANPLANTES ATRAVÉS DE UMA MEDICINA PREVENTIVA". Seria uma série de reportagens demonstrando que problemas pequenos de saúde que não são controlados jogam as pessoas na fila, movimentando milhões de reais todos os anos aos transplantistas. Algo em torno de 600 milhões de reais, todos os anos. Nunca as filas tiveram tão cheias.
E estes serão os prêmios:
PRÊMIO ABTO DE JORNALISMO IMPRESSOR$ 12.000 (doze mil reais), de onde será feita a dedução de Imposto de Renda.PRÊMIO ABTO DE RADIOJORNALISMOR$ 4.000 (quatro mil reais), de onde será feita a dedução de Imposto de Renda.PRÊMIO ABTO DE TELEJORNALISMOR$ 12.000 (doze mil reais) de onde será feita a dedução de Imposto de Renda.PRÊMIO ABTO DE WEBJORNALISMOR$ 4.000 (quatro mil reais), de onde será feita a dedução de Imposto de Renda.PRÊMIO ABTO DE JORNALISMO ESTUDANTILR$2.000 (dois mil reais), já deduzido o Imposto de Renda.Os vencedores receberão igualmente um troféu e um certificado, e os finalistas, um certificado.Assina o concurso Dr. Valter Duro Garcia – Presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos - RG: 5004632963 - RS / CPF: 091.081.570-49.São Paulo, 29 de janeiro de 2009
Será que o "jornalista" da Revista GALILEU já inscreveu o seu texto? Eu acho que ele tem grandes chances. Esconder fatos reais para concluir que não há assassinatos para fins de tráfico de órgãos, realmente, é digno de prêmio. Sem contar o espaço dado a Valter Duro Garcia, criador do concurso.
Por falar em jornalismo comprado, a revista Galileu? Ainda não respondeu ao meu desafio.
Não conseguiu provar que o caso Paulinho é uma farsa.
Mas no caso deste prêmio, não faz diferença. A verdade é o que menos importa!
Boa sorte à todos.