Desembargadores comprados

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sábado, 21 de maio de 2011

Cristiane Segatto e os transplantes

Em 2001 faleceu Marcelo Fromer dos Titas. Quem nao se lembra? Um jovem atropelado por uma moto que foi levado para um hospital publico como indigente, e sem receber o tratamento minimo adequado, faleceu. Quando descobriram que se tratava de alguem famoso, e para nao manchar a ja suja ficha do atendimento publico, alguem decidiu propor a doaçao e transforma-lo em heroi.

O caso foi acompanhado de perto pela jornalista Cristiane Segatto que chegou até mesmo a assistir o implante do coraçao do Tita em um metalurgico. A historia comoveu Cristiane, como ela relata na Revista Epoca:
Jornalistas são pagos para revelar histórias. Muitas vezes o desfecho delas cai no esquecimento. Por falta de informação ou por falta de tempo de revisitar casos que deveriam ser revisitados. Os leitores sentem falta disso e reclamam com razão. Também sinto falta. Esse caso específico me marcou profundamente. É daquelas histórias que vou guardar para contar aos meus netos (se eu estiver viva até lá e se minha memória permitir).
Sim, jornalistas sao pagos para revelar historias. So nao sabemos qual o criterio que utilizam para selecionar uma historia. As vezes, o pagamento pode fazer a diferença. Uma historia bem paga, vira mesmo um best seller.

A jornalista revela que assistiu pessoalmente o implante do coraçao famoso. Isso demonstra que em uma historia como esta é possivel até luz, cameras e açao em plena sala de cirurgia, onde transplantistas dizem que os proprios familiares nunca podem entrar.
Subi ao andar do centro cirúrgico e procurei o chefe da equipe. Ele estava pronto para entrar em ação. Eu me apresentei e, humildemente, pedi para assistir à cirurgia quietinha, do canto da sala, sem dizer nada. Seria apenas mais uma no meio daquela equipe nada enxuta. Como jornalista, minha intenção era colocar o leitor dentro da sala. Descrever o máximo de detalhes, cena a cena, som a som, sensação a sensação para que ele, ao terminar de ler a reportagem, tivesse o privilégio de ter, de alguma forma, estado lá. (...) Por alguma razão, José Pedro da Silva decidiu confiar em mim. Corri ao vestiário, me enfiei naquelas roupas largas de algodão cinza-chumbo, prendi os cabelos, calcei sapatilhas e entrei no centro cirúrgico com meus dois companheiros de todas as horas: um bloquinho e uma caneta Bic.
A jornalista mostra certa proximidade com (seria doutor?) "José Pedro da Silva" que permitiu tal cirquinho. Mas Segatto vai alem: 
As normas dizem que a doação de órgãos deve ser anônima. O receptor não deve conhecer a identidade e a família do doador para evitar que vínculos emocionais compliquem a vida das duas partes. Quase sempre essa norma se torna impraticável quando uma pessoa famosa é doadora ou receptora. As informações vazam e se disseminam em poucos minutos.
Nao existe nenhuma "norma" que afirme que a doaçao deve ser anonima, ou que  receptores e doadores nao possam se conhecer. Existe uma preocupaçao de que se isso aconteça, pode criar laços indesejaveis entre as familias do receptor e doador, alem de criar problemas mais serios, na area psicologica e até, acreditem, envolvendo dinheiro. Tanto é verdade que a propria Cristiane Segatto, na epoca, revelou todas as pessoas que receberam os orgaos de Marcelo Fromer. 

Foi assim tambem no caso do ja esquecido e enterrado Norton Nascimento. Ontem heroi, hoje completamente esquecido. O seu doador foi divulgado em todos os meios de comunicaçao sem qualquer constrangimento. A norma que a jornalista fala, simplesmente nao existe. Nao esta na lei e em nenhuma resoluçao do conselho federal de medicina. Alias, ainda que existisse como resoluçao do CFM, seria ignorada completamente como tantas outras.

Cristiane revela um profundo pesar pela morte do receptor do coraçao de Fromer, morto supostamente por causa de uma gripe suina. E aproveita para fazer a propaganda da vacina.

Este texto da Segatto me faz pensar em algumas coisas. Foram varios emails que enviei para ela, e inclusive um telefonema onde contei toda a historia do Paulinho. Como o mataram, como venderem e transplantaram seus orgaos de maneira irregular, como os acusados tinham relaçoes politicas, como era constituida a mafia (sem qualquer formalizaçao ou registro), como o processo se arrasta na justiça (até hoje). Nestes oito anos que ela ficou emocionada com o transplante de Fromer (mas nunca se interessou em saber como ele estava), eu entrei na sua caixa postal eletronica contando a minha historia. Mas a minha historia nao era tao comovente. Uma criança assassinada para ter os orgaos vendidos nao a emociona. Um implante sim. Mario Varjao, o metalurgico com o coraçao do Fromer, morreu. E eu recebi asilo na Italia apos ser ameaçado por varios longos anos. 

Qual sera o criterio que o jornalista tem para divulgar uma historia?
Acho que ela esta certa. "Jornalistas sao pagos para revelar historias" ou nao.



Um comentário:

Pedro Henrique disse...

Paulo,

Você perdeu muito tempo contando sua história para ela. São jornalistas ideológicos, só promovem as patologias esquerdistas sul-americanas.

Veja bem, o sujeito é levado até um hospital como indigente e morre porque o sistema público de saúde é uma porcaria. Apesar disso, a pauta dela foi um transplante de coração.

Se essa mulher não foi capaz de imaginar que inúmeras pessoas morrem todos os dias pela guerra de benefícios individuais do poder brasileiro, enquanto um estava sendo "salvo", então ela certamente não seria capaz de divulgar a sua história.

Já trabalhei nessa área e, com toda a sinceridade, quero distância agora. Meu ego não aceita mais envolvimento com problemas, corrupção e descaso generalizado, mesmo que me atinja apenas indiretamente.

Abraços