No dia 18/08/2009 escrevi sobre Abdelmassih, o médico estuprador, e afirmei que logo veríamos um movimento de defesa ao médico, inocentando-o e acusando as denunciantes.
Ufa!!! Demora um pouco as vezes, mas não falha.
Para que o texto tenha um certo ar de "será?", colocando um ponto de interrogação na cabeça dos menos favorecidos intelectualmente, é preciso escalar um personagem de peso e um jornal com alguma credibilidade. A bola da vez foi a Folha de S.Paulo e o autor um renomado alguém que nunca ouvi falar, GUSTAVO IOSCHPE. Ele tem mestrado em Yale. (UAUUUUU)
O título já deixa claro o que pretende: Condenação de Abdelmassih veio antes do julgamento
Se desejar ler o texto na íntegra, basta clicar aqui. Sinto muito, mas não vou reproduzi-lo. É nojento.
O texto começa, como sempre, contando uma histórinha. Fulano de tal foi acusado por outro fulano e condenado por 1000 anos e descobriram que ele era inocente. No Brasil, há o caso simbólico da escola de base de São Paulo, onde os pais foram para a cadeia devido a acusação de uma criança. Tudo foi devidamente citado pelo jovenzinho de Yale.
Eu poderia ajudá-lo e ampliar esta lista. Citaria, por exemplo, o caso de Daniele Prado, 21 anos, que foi acusada por um médico de ter colocado cocaína na mamadeira da filha. Médicos e delegados afirmaram que a filha, recém nascida havia morrido de overdose. Porém, depois descobriu-se que tudo era mentira, graças aos laudos periciais nas mamadeiras. A criança morreu de uma rara doença. Também descobriu-se que o médico que a denunciou havia na verdade a estuprado e precisava inverter as acusações. Leia aqui se desejar. A imprensa não falou mais nada e aquela senhora perdeu a filha e a audição após ter o tímpano perfurado com uma caneta por outras detentas e com o apoio das autoridades que fingiram não ver o que acontecia. Duvido que alguém consiga furar os tímpanos de Abdelmassih.
Mas o jovem de Yale está mesmo disposto a defender Abdelmassih. O próximo passo e mostrar como as pessoas se enganam, vale todo o esforço para confundir. Preste atenção:
Primeiro, sabe-se que nossa memória é bem menos confiável do que imaginamos e pode ser profundamente influenciada por eventos ocorridos quando a memória é formada e pela maneira como ela é recuperada.Segundo: nosso respeito, beirando a submissão, por autoridades.O terceiro problema é o desejo de agradar e de pertencer. A maioria das pessoas não gosta de ser do contra, de decepcionar os outros. É frequente que testemunhas digam o que acreditam que o interlocutor quer ouvir — ainda mais quando esse interlocutor é um representante do Judiciário.Finalmente, damos grande valor a um testemunho ocular. Se alguém lhe disser, com convicção, que viu fulano fazendo isso ou aquilo, provavelmente você acreditará. Acreditamos na bondade e na acuidade alheias.Junte esses quatro fatores e veja como é difícil a absolvição de um réu quando a Promotoria está convencida da sua culpa e tem testemunhas para confirmar sua história.
Ao que me parece, o autor do texto está desclassificando todo e qualquer sistema acusatório. Para ele é preciso ter gravação ou transmissão direta do crime, caso contrário as provas não tem valor. Não se pode mais confiar em nada. Resumindo os 4 pontos, somos todos idiotas.
Primeiro: Não devemos confiar na nossa memória.
Segundo: Aceitamos tudo o que as autoridades nos dizem.
Terceiro: Todos somos maria vai com as outras.
Quarto: Nunca acredite no que os outros dizem.
Hai capito?
Ele desqualificou todas as situações básicas existentes em uma acusação. Segundo ele, este é o verdadeiro sistema a ser aplicado, de um estado democrático de direito. Ninguém deve ser acusado. O ideal é confessar, e mesmo assim devem haver outros itens que desqualifiquem a confissão. A partir deste princípio, fica praticamente impossível acusar quem quer que seja. Somos todos um bando de otários a serviço de acusar por acusar. Por diversão. Por não ter nada melhor a fazer. A dignidade humana só pertence ao acusado. Os denunciantes são desmemoriados, submissos, maria vai com as outras e acreditam em qualquer coisa que lhe dizem.
Prosseguindo em sua missão, o jovem de Yale não mede esforços e relata:
Hoje a história se repete com o dr. Roger Abdelmassih. Dezenas de testemunhas atestando os abusos sexuais do médico. O mesmo furor. Capas de jornais e revistas, matérias na TV: um escroque de última categoria. O Judiciário vai mais longe e o coloca em prisão preventiva. O conselho de medicina suspende sua licença.
Que absurdo!! Prenderam o médico só por causa de 61 testemunhas. Onde nós estamos???
E tome Yale:
Acredito que os picaretas, pulhas e psicopatas são distribuídos aleatoriamente dentre todas as profissões. Não conheço as supostas vítimas, mas seria improvável que tantas mulheres acusassem um homem de um mesmo crime sem ter razão para isso.Por outro lado, tampouco me surpreenderia se o dr. Abdelmassih fosse inocente. As 56 acusadoras não são nem 0,2% das pacientes que ele atendeu. Se fosse o predador sexual que pintam, imagino que o número de vítimas seria maior. Também é estranho que tenham demorado tantos anos para acusá-lo e tenham prosseguido o tratamento depois do abuso.Mas por que essas mulheres viriam agora a público se fosse tudo mentira?É possível que algumas tenham falsas memórias, que outras sejam aproveitadoras e que outras tenham sido estimuladas por promotores sôfregos. É improvável. Mas é possível.
Errou nas contas: Não são 56 vitimas. São 61 na verdade, mas isso não importa não é mesmo? Estuprar 5 a mais ou a menos não faz diferença. Bobagem.
Agora o show: É hora de aplicar as teorias enquadrando as testemunhas, que deveriam ao meu ver, processá-lo. Para justificar sua tese, ele afirma que as denunciantes representam "apenas" 0,2% das pacientes de Abdelmassih. É pouco! Deveria ter mais, pensa ele.
Talvez ele não tenha pensado na possibilidade de muitas e muitas outras vítimas terem optado pelo silêncio. Esquece o jovenzinho de Yale que além do estupro, o médico utilizou material genético de outras pessoas para fecundar suas clientes sem autorização. Isso significa dizer que os filhos gerados naquela clínica podem não ser filhos reais do casal causando a destruição da família. Neste caso, para muitas, é melhor não mexer com isso ainda que passem 100 anos.
O jovenzinho de Yale estranha que tenham demorado a denunciar. Não é verdade. A denúncia foi feita a muitos anos atrás e o médico foi protegido pelo Ministério Público, pela polícia e pelo próprio conselho de medicina - submissos à autoridade que era ABdelmassih. A denunciante apresentou na época um laudo mostrando que fora vítima de uma relação forçada, e este laudo foi ignorado. O que você faria ao saber que alguém denunciou um estuprador e as provas simplesmente foram ignorados, correndo o risco de tudo se voltar contra quem denunciou? Tem razão o jovenzinho de Yale. As vítimas são maria vai com as outras. Depois de verem que a impunidade impera, todas se calam. Ninguém gosta de ser do contra.
Em cada uma delas ficava a sensação de que era algo isolado. Não seria provável que ele tivesse feito isso com várias mulheres. Cada uma delas acreditava ser a única abusada.
Não é difícil entender, principalmente para alguém com mestrado em Yale. A menos que algum interesse lhe sirva.
Depois, o jovenzinho de Yale acusa-as de terem memórias falsas, de serem aproveitadoras e de serem manipuladas por autoridades, enquadrando as vítimas em sua tese inicial.
Para finalizar este post, devo citar este trecho:
A mídia deveria tratá-lo como réu, não como condenado. O lugar de seu julgamento é um tribunal, não a praça pública. O Estado foi criado para garantir o usufruto das liberdades individuais.
Caro jovenzinho. O estado deveria garantir em primeiro lugar, o respeito e a segurança destas pacientes, antes de se preocupar com o acusado. Da mesma forma que Abdelmassih se tornou famoso com a imprensa, foi destruído por ela. Não é justo?
E foi destruído por um motivo justo. Usou e abusou de seu prestígio para violentar mulheres que estavam desesperadas para gerar um filho. Abdelmassih, coincidentemente, usou a sua tese jovenzinho, acreditando que nenhuma delas teria coragem de ir contra a fama do estuprador, e graças a isso, passaram anos se remoendo por terem sofrido este abuso.
Ele considerou que:
Primeiro: A memória é fraca, principalmente se for administrado algo como benzodiazepinicos.
Segundo: O nosso respeito chega a submissão às autoridades. Lembro que Abdelmassih era uma autoridade em reprodução humana.
Terceiro: A maioria das pessoas não gosta de ser do contra, de decepcionar as pessoas.
Quarto: Damos grande valor a testemunha ocular. Por isso os abusos eram feitos em salas fechadas.
Me diz ai! Abdelmassih estudou em Yale?
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