Desembargadores comprados

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Traficantes inovam e inventam os órgãos marginais.


A fraude é simples e obviamente, criada no Brasil. Trata-se da nova forma de furar a fila de transplante. 

Como funciona

Um órgão humano que deveria atender a primeira pessoa da fila, é classificado pelo traficante de órgãos como sendo um "órgão marginal". Um órgão "sem qualidade". 

Neste caso, este órgão deveria ser descartado e não transplantado. Mas não é o que acontece. Para prosseguir com a fraude, o traficante precisa fazer deste processo algo autêntico e portanto faz a oferta aos primeiros pacientes da fila, que em tese, deveriam ser os beneficiados:
"Você é o primeiro da fila. Recebemos um fígado que não está bom, não tem qualidade, e a chance de dar certo é muito pequena. Você deseja abrir mão do seu direito de receber um órgão saudável em troca de um órgão podre?"

A resposta é obviamente NÃO
Qualquer paciente dará preferência a um órgão saudável, até porque, se está aguardando um transplante, certamente é porque o seu órgão não tem condições de mantê-lo saudável. Trocar 6 por meia dúzia, não pode ser considerado um tratamento.

Com a resposta óbvia dos pacientes que querem viver, os órgãos passam a descer a fila. Neste caso a que me refiro, o traficante implantou o fígado "marginal" no paciente de número 32. Coincidentemente, o paciente transplantado era irmão do secretário estadual de transportes do Rio de Janeiro e tinha bastante influência política. 

O que é um órgão marginal?

O órgão marginal, segundo o traficante que inventou este método, é aquele que está fora dos padrões de tamanho, peso e quantidade de gordura considerados ideais para um transplante. Não serve para os primeiros da fila, mas serve para pessoas que possuem influência política. 

Transplantes de fígados entre vivos são realizados com certa frequência. Parte do fígado do doador é retirado e implantado no receptor sem qualquer problema. Mas para alguns traficantes, uma pequena diferença no tamanho, pode desqualificar o órgão. Estranho? 

Mas situações estranhas, não são raras quando o assunto é tráfico de órgãos.

Quem é o protagonista?

Joaquim Ribeiro Filho, o traficante de órgãos humanos a que me refiro, foi denunciado por Improbidade Administrativa e não pelo crime hediondo de tráfico de órgãos.

Este médico já foi preso, e já foi investigado por outras situações envolvendo o ato de furar a fila, o que significa que é algo bastante comum e natural em seu dia a dia.

Um detalhe que a imprensa está ignorando (estranhamente) é que apenas 2 dias após assumir o cargo, Joaquim Ribeiro Filho conseguiu o órgão para o irmão do secretário. O seu antecessor não deve ter aceitado a sujar-se por tão pouco. Podemos perceber que o tráfico de órgãos possui braços políticos poderosos, que intimidam, pressionam e até demitem aqueles que não entram para a irmandade. Mas estes fatores não influenciaram a justiça. 

A juíza Lilea Pires de Medeiros, da 21ª Vara Federal no Rio, absolveu o traficante mesmo sem que houvesse qualquer perícia que comprovasse a "marginalidade" do órgão. Segunda a decisão, a juíza ouviu os primeiros pacientes da fila, que confirmaram que não desejaram receber o órgão podre e imprestável. Sendo assim, segundo a juíza, o procedimento foi legal.

Tal decisão comprova que a máfia de tráfico de órgãos é muito forte e é composta por magistrados, procuradores, políticos e principalmente médicos que conseguem, apesar das provas e evidências (ou até mesmo a falta de laudos), a completa absolvição e quem sabe até uma indenização por serem acusados "injustamente". 

O que tiramos de proveito nesta história ?

A principal lição é que no Brasil nunca existirá tráfico de órgãos. Não importa a quantidade e a qualidade das provas apresentadas. Os traficantes sempre serão pessoas inocentes, acusadas por pessoas que desconhecem a medicina (os leigos). O corporativismo e interesses financeiros e políticos impedirão que qualquer traficante seja punido, ainda que tenha cometido assassinato.

A sociedade médica brasileira está sendo conivente com este crime e está aceitando e até protegendo, médicos que praticam este tipo de crime nefasto.

No entanto, o tempo está passando e casos como estes estão vindo à tona e comprovando o que venho denunciando há 8 anos. E com eles, a verdade sobre os transplantes estão surgindo sem que ninguém consiga detê-la. Para ilustrar, cito algo que colhi nos jornais, durante a prisão e a apuração dos fatos. Cito um depoimento registrado pela imprensa que mostrou a importância, para os transplantistas, de se criar mortos a qualquer custo. 

O texto é do presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, Carlos Varaldo. Você pode ler na íntegra se desejar clicando aqui.
"No mundo em que vivemos, atitudes corretas e honestas como a Lei Seca, de tolerância zero de bebida alcoólica para dirigir veículos pode ser considerada um exemplo muito bem colocado na carta de número sete do baralho do Tarô (representando o diabo), definindo que os fins justificam os meios: menos alcool resulta em menos accidentes. Mas Issac Newton já nos dizia em sua terceira lei que "toda ação provoca uma reação de igual intensidade e em sentido contrário", ensinando com isso que antes de reagir devemos agir, levando em consideração o desdobramento que uma ação poderá causar em outras áreas da sociedade, neste caso da saúde. 

Portanto, as autoridades implantam com todo o rigor a Lei Seca conseguindo reduzir os acidentes de trânsito, mas esquecendo discutir com outras áreas do ministério da saúde as conseqüências que a redução do número de acidentes poderá ocasionar problemas na captação de órgãos para transplantes. A Lei Seca é necessária e deve continuar a ser aplicada com rigor, mas por falta de uma discussão estratégica das ações coordenadas na saúde pública, o ministério da saúde está permitindo que se crie um cenário no qual, não demora, a oferta de órgãos para transplantes estará consideravelmente diminuída. Como resultado, já no mês de julho a captação de órgãos no Rio de Janeiro caiu pela metade. Somente quatro transplantes de fígado foram realizados em trinta dias.
Entenderam? É preciso derrubar a lei seca porque com a lei, diminuem os acidentes e as pessoas não morrem. Assim sendo, diminuem as doações de órgãos. A lei seca, segundo este cidadão, precisa acabar. Precisamos de mortos! Custe o que custar. 

Mas punir traficantes, nem pensar.

*** Em tempo.

Em 01 de agosto de 2008, a Folha Online publicou a opinião de Valter Duro Garcia, presidente da ABTO, sobre o caso. 
"O presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), Valter Garcia, afirma que a suposta fraude no sistema nacional de transplantes  deve reduzir o número de doações pela metade."
Nos meses seguinte, nenhuma queda como previa Garcia foi divulgada pelos meios de comunicação, o que revela que a preocupação da ABTO era completamente desnecessária. Garcia na mesma entrevista afirmou que é dificil burlar a fila, mas não apresentou qualquer indignação pelos fatos e provas apresentadas.

Um comentário:

Ana Maria C. Bruni Territorio Mulher disse...

Que horror Paulo, estas declarações são arrepiantes! Fabrica de mortos!
Houve um filme produzido em 1973- O mundo em 2020 - Soylent Green , foi um cult na época.
o povo era alimentado com biscoitos produzidos pelos seus proprios mortos.
Na época parecia ficção!