Esta deveria ser a imagem do meu filho na minha mente, sempre que penso nele, mas infelizmente nao é.
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Paulo Veronesi Pavesi - Assassinado aos 10 anos para fins de trafico de orgaos |
10 assassinatos silenciosos, completamente impunes Em qual pais do mundo, um grupo de medicos mataria 9 pessoas para fins de trafico de orgaos e isto nao seria noticia? Se voce respondeu Brasil, acertou! Em qualquer lugar no mundo, isto seria um escandalo. No Brasil, nao significa nada demais.
No total foram oficialmente 10 assassinatos cometidos por uma organizaçao criminosa, com poderes politicos e financeiros e consequentemente com grande influencia na midia. Mas o fator marcante da impunidade neste caso é a participaçao de autoridades. O numero oficial de 9 mortos para fins de trafico de orgaos pode ser bem maior. A 10 vitima foi morto a tiros, nao para fins de trafico de orgaos, mas para calar a boca.
O Ministerio Publico Federal em 2002 apresentou a justiça a denuncia alegando que Paulinho foi assassinado. Mas atendendo as exigencias da mafia, cuidadosamente trocou o nome dos verdadeiros assassinos para protege-los. Acompanhando e estudando o caso dia a dia, foi possivel - infelizmente - obter provas da existencia de um acordo entre o Ministerio Publico e a mafia para livrar os assassinos. Procuradores chegaram ao cumulo de receber representantes dos acusados em Brasilia, no gabinete do Ministro da Saude, na epoca JOSE SERRA, e ajuda-los a inserir documentos do prontuario adulterados na auditoria que estava sendo realizada naquela epoca. Os procuradores nunca me receberam! Estavam - diziam eles - sempre ocupados.
De todos que participaram da retirada de orgaos quando Paulinho ainda estava vivo, somente um foi denunciado. Os demais assassinos - socios do deputado estadual Carlos Mosconi e membros da equipe de transplante - foram excluidos da denuncia, sem qualquer explicaçao, embora tenham sido indiciados pela policia federal. Em 2004 o relatorio final da CPI do Trafico de Orgaos em Brasilia apontou novamente o dedo para os assassinos e mais uma vez o Ministerio Publico ignorou sem dar qualquer explicaçao. Ou melhor, disseram que tem autonomia para fazer o que bem entendem.
Paulinho foi atendido em emergencia no Hospital Pedro Sanches e depois levado para a Santa Casa, todos localizados em Poços de Caldas. O ultimo exame feito em Paulinho antes de deixar o Hospital Pedro Sanches, comprovou que ele estava vivo. Ao chegar na Santa Casa, os orgaos foram removidos sem que houvesse a comprovaçao da morte. O assassinato foi detalhadamente documentado pelos proprios medicos. Mas na denuncia o Ministerio Publico insiste em dizer que ele foi morto no Hospital Pedro Sanches.
Por que o Ministerio Publico afirma que Paulinho morreu no Hospital Pedro Sanches?
A partir do caso Paulinho, outros assassinatos foram descobertos. Os nomes das vitimas foram abreviados no processo para que fosse impossivel ter acesso aos seus familiares, que nao sabem que seus entes queridos foram, na verdade, assassinados. Os casos foram divididos em 3 processos tambem para dificultar o andamento. Normalmente o Ministerio Publico informa a imprensa de casos como este, com diversas vitimas. Eles adoram holofotes. Mas neste caso, o Ministerio Publico nao so deixou de informar a imprensa, como escondeu tais informaçoes para que ela nao tivesse conhecimento. Quando eram questionados por algum jornalista sobre os casos, os procuradores negavam a existencia deles. Uma jornalista chegou a ser ameaçada pelo procurador Jose Jairo Gomes, caso continuasse a divulgando fatos relacionados ao caso Paulinho.
Os dados abaixo foram extraidos do relatorio final da CPI do Trafico de Orgaos Humanos - 2004
PROCESSOS 2003.38.00.026227-9 / 2003.38.00.026225-1 / 2003.38.00.002667-5
ACUSACAO: HOMICIDIO
LOCAL DAS OCORRENCIAS: HOSPITAL SANTA CASA DE POÇOS DE CALDAS
CASO 1 - J.D.C., 38 ANOS, REGISTRO N. 946351.
CASO 2 - A.L.R., 58 ANOS, REGISTRO N. 710761.
CASO 3 - A.M.T., 50 ANOS, REGISTRO N. 957410.
CASO 4 - A.P., 68 ANOS, REGISTRO N. 1195C.
CASO 5 - P.L.A., 41 ANOS, REGISTRO N. 755184.
CASO 6 - M.B., 47 ANOS, REGISTRO N. 97153A.
CASO 7 - M.L.O, 43 ANOS, REGISTRO N. 021173.
CASO 8 - J.B.M., 32 ANOS, REGISTRO N. 81274A.
Reparem que todos os pacientes acima foram assassinados na Santa Casa de Poços de Caldas, mas so o Paulinho, segundo o Ministerio Publico, foi assassinado no Hospital Pedro Sanches! Eles fizeram isso para poder denunciar os medicos da emergencia, deixando os transplantistas que pertecem a Santa Casa - verdadeiros assassinos - livres. Como ha provas de que ele saiu vivo do hospital Pedro Sanches, os denunciados serao facilmente absolvidos, pois nao podem ser acusados de homicidio de uma pessoa viva! Esta é a base do acordo entre assassinos e Ministerio Publico. Por sua vez, os medicos da emergencia que foram acusados, aceitaram as acusaçoes em silencio pois sabiam que seriam inocentados, e evitaram assim que o caso se tornasse um grande escandalo, o que arrastaria todos para o mesmo buraco.
Queima de arquivo
A 10a vitima nao foi um paciente. Foi o Administrador do Hospital da Santa Casa Carlos Henrique Marcondes, assassinado com um tiro na boca depois que descobriram que ele havia grampeado os telefones do centro cirurgico e de outros pontos do hospital. A policia local - a mesma que concluiu que nunca houve nenhum crime e que o culpado pela divulgaçao dos fatos fui eu ao acionar a imprensa, concluiu o caso com uma versao ridicula de suicidio. Nao bastasse o transtorno da perda, a viuva foi obrigada a entrar na justiça e alterar tal decisao. Até hoje o caso encontra-se como "crime a esclacer".
Na epoca, o delegado de policia disse a imprensa que ele estaria entre os 10 delegados mais honestos do estado de Minas Gerais. Nem mesmo ele ousou colocar-se em primeiro posto.
Ninguem teve coragem de levar o caso adiante, ou todos foram muito bem pagos para que o caso ficasse como ainda esta. As fitas gravadas estavam em uma gaveta na sala do administrador e foram recolhidas por funcionarios do hospital e em seguida destruidas, quando deveriam ser entregues a policia. A policia nao se importou com isso, e nem se interessou pelo conteudo das gravaçoes.
Quem atendeu Marcondes quando foi encontrado ainda agonizando?
Foram membros da equipe de transplantes!
Por que nao mandaram uma equipe de emergencia?
Se fosse suicidio haveria polvora na mao do administrador. Por isso as maos dele foram danificadas com acido e o laudo apresentou resultado inconclusivo em relaçao a polvora. Mas confirmou a presença de acido! Nao é possivel afirmar que ele tenha feito os disparos contra si, mas é possivel afirmar que alguem queimou as suas maos propositalmente. Isto ajudou a policia a fabricar a versao de suicidio. Todos sabem quem matou o administrador. Hoje ele é dono de um serviço de concessao do governo do estado. Premio pelo feito!
Todos os processos acima ja foram sumariamente arquivados. O unico que esta aberto e em andamento é o do Paulinho, porque estou diariamente lutando para que ele nao desapareça como os outros. Se nao fosse tudo o que fiz, o processo tambem ja teria sido encerrado.
Eu sacrifiquei muitas coisas na minha vida por este processo, consciente de toda a manipulaçao existente e a evidente chance de nao dar em nada. Mas valeu a pena pelo meu filho. Faria tudo novamente. Valeu a pena pelos filhos de muitos, que tenho certeza, foram poupados. Se aquele esquema nao fosse suspenso como foi, outros certamente teriam o mesmo fim. Mas atençao! O esquema esta voltando nas maos das mesmas pessoas, com uma roupagem diferente. Tudo autorizado pelo governo e timbrado pelo SUS.
A Mafia
A mafia criou e mantinha uma Central de Transplantes clandestina que sequer possuia autorizaçao do Ministerio da Saude ou um CNPJ. A central homicida era chefiada por ALVARO IANHEZ que mantinha listas de espera privadas de transplantes que eram realizados mediante "doaçoes" em dinheiro. IANHEZ tambem chefiava a equipe de transplantes e fraudava o SUS cobrando por internaçoes que nunca foram realizadas. IANHEZ tambem mantinha um consultorio particular ao lado da central. Uma associaçao de renais cronicos, tambem situava-se ali e era comandada por IANHEZ. Nota-se que IANHEZ tinha um certo apreço pelo dinheiro e mantinha a redea de toda a estrutura nas maos. Tais fatos foram comprovados e levaram IANHEZ a responder tambem por Estelionato e Concussao. Mas estranhamente, apesar da farta documentaçao, testemunhas e depoimentos na CPI, ele foi absolvido!
A fuga
Maria Jose Da Re era responsavel pela documentaçao fraudulenta enviadas ao SUS para as cobranças ilegais, conforme relatorio da Policia Federal. Ela chegou a ser denunciada junto com IANHEZ, mas inexplicavelmente foi excluida do processo, pediu demissao do hospital e voou para a Italia. Apos alguns meses, Da Re foi para os EUA e so quando tudo estava tranquilo, voltou ao Brasil. Hoje trabalha no Hospital Santa Lucia, em Poços de Caldas, que segundo noticias, esta fazendo transplantes. Da Re tambem participou de um esquema de desvio de dinheiro da Santa Casa atraves de emprestimos. Mas tudo foi devidamente abafado, pelo Ministerio Publico, atraves de uma TAC. Termo de Ajuste de Conduta. A TAC favorecia o principal acusado de desvio de dinheiro, desde que ele devolvesse uma pequena parte do montante roubado. Em troca, nao seria sequer processado! Tudo isto esta documentado.
Penido Burnier: trafico de corneas
O Instituto Penido Burnier em Campinas, recebeu as corneas de Paulinho furando a fila de transplantes de Minas Gerais. As corneas foram implantadas tambem fora da fila de Sao Paulo, mediante "doaçao em dinheiro", feito pelas familias que a receberam. O Penido Burnier tambem nao possuia autorizaçao do Ministerio da Saude para realizar tais procedimentos. Mas estranhamente foi processado e absolvido! O delegado da Policia Federal Celio Jacinto dos Santos, afirmou na CPI que o Ministerio Publico de Sao Paulo deveria ter feito uma investigaçao mais aprofundada neste instituto, mas nao soube explicar porque tal investigaçao nao foi feita.
ALVARO IANHEZ, nunca foi suspenso ou demitido pelo SUS - o patrao que ele fraudou por tanto tempo. Ao contrario! O SUS fez mais por ele. Concedeu-lhe autorizaçao para continuar trabalhando. Hoje IANHEZ fez o volume de transplantes em Manaus crescer assustadoramente.
Em auditoria recente em Manaus, constatou-se que IANHEZ continua a nao preencher documentos e tratar o doador com irresponsabilidade. Mas nada foi feito para mudar este quadro. Com diz IANHEZ a todos que o escutam: "Eu tenho o corpo fechado. Ja meteram processo em mim e nao deu em nada!"
Em 2002 passei a apontar elementos concretos da participaçao do Ministerio Publico na proteçao aos assassinos. Fui ameaçado diversas vezes. Percebendo que nao conseguiriam me fazer parar, utilizaram os recursos mais sujos que tem em maos: A propria justiça. Me processaram por injuria, calunia e difamaçao - e pasmem - COACAO no decorrer do processo. Sete procuradores assinaram a denuncia contra mim. Contra os assassinos foram apenas 4.
Como alguem pode coagir um processo apresentando provas de que esta falando a verdade?
O Ministerio Publico negou-se a me ouvir e acusou-me de coaçao?
Tais provas foram juntadas ao processo movido contra mim. A Juiza que conduziu o processo me absolveu reconhecendo que alguns dos medicos que participaram efetivamente do assassinato foram EXCLUIDOS do rol de acusados sem qualquer explicaçao. Em especial, o socio do deputado Mosconi. Novamente o Ministerio Publico ignorou a decisao judicial.
O mesmo Ministerio Publico nao poupou esforços em favor dos assassinos. Nos impediu de participar do processo do Paulinho como testemunha de acusaçao. No que eles chamam de "estado de direito democratico", parece que a familia da vitima nao tem direitos. No processo participam so testemunhas de defesa, que nao entram no merito do homicidio, mas tecem elegios aos assassinos.
ABTO - Associaçao Brasileiro de Transplantes de Orgaos.
Dois renomados transplantistas e ex-presidentes da ABTO sao testemunhas de defesa de ALVARO IANHEZ. Um irmao do acusado LUIZ ESTEVAM IANHEZ era conselheiro consultivo da ABTO quando Paulinho foi assassinado. As testemunhas sao OSMAR MEDINA PESTANA e VALTER DURO GARCIA. O fato de que havia uma central clandestina, que a fila foi desrespeitada, que o diagnostico de morte encefalica foi fraudado, e que Paulinho teve os orgaos retirados quando ainda estava vivo, nao afetou a compreensao deles sobre o caso. A amizade com o assassino é mais importante. A primeira denuncia que fiz sobre o caso foi para a ABTO que abafou o assunto como tenho documentos em maos e gravaçoes que podem provar.
E os outros 8 casos?
O Ministerio Publico tambem nao tinha provas?
O Ministerio Publico denuncia 9 homicidios sem provas?
A justiça acata 9 denuncias sem provas?
Sao necessarios 10 anos de processo para concluirem que nao ha provas?
E' por isso que eu sou proibido de participar do processo? Por que quero mostrar onde estao as provas?
Esta é a imagem do meu filho sempre que ele me vem em mente, ou seja, todos os dias.
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Corpo do Paulinho sendo exumado, um ano apos o assassinato. |
Ontem fomos nos.
Amanha podera ser qualquer um de voces.
Pensem nisso.
Este texto e cada palavra escrita nele é de inteira responsabilidade de Paulo Pavesi.