Nem deu para avaliar a repercursao da materia que o G1 publicou sobre o caso de Taubaté, cujos envolvidos devem ir a juri popular depois de inexplicaveis 23 anos, começou a chuva de chantagens emocionais. Aquela velha historinha de pessoas que estao morrendo nas filas (embora sejam desperdiçadas mais de 80% das doaçoes), e da clara extorsao: "Doe porque um dia voce pode precisar de um orgao".
Li uma reportagem onde uma telefonista diz ter esperado apenas 4 meses na fila e que ainda mantem contato com pacientes na fila que aguardam ja ha mais de 10 anos. A reportagem so nao explica porque ela ficou so 4 meses enquanto alguns ficam 10 anos na espera.
Mas voltando a reportagem, recebi um email de Kleber Thomaz onde ele pedia informaçoes sobre o assunto. As minhas condiçoes (de publicar os nomes dos envolvidos, inclusive do presidenciavel Serra) foram ignoradas. A reportagem enfatiza que o CRM e o CFM absolveram os reus nos processos do conselho. Mas a mesma reportagem deixou de enfatizar pontos importantes que constam nos depoimentos da CPI do Trafico de Orgaos.
Alguns estao no depoimento do proprio Kalume, outros no depoimento do perito que analisou as provas.
Não sei se aqui tem médico, mas esta é uma das arteriografias de um dos pacientes que está no processo. Esta é uma peça processual. Essa arteriografia está tão completa. Aqui é só uma foto, mas no exame todo ela tem até fluxo venoso. Tem a fase arterial, a fase capilar e a fase venosa. Se houver interesse, está aqui, porque isso está no processo, a arteriografia de um dos pacientes.
O Conselho Regional de Medicina terminou o processo, foi um processo muito rumoroso, punindo 4 médicos com censura pública. Só que o Conselho puniu, mas foi para a imprensa dizer que os médicos eram inocentes. O Conselho tornou oficial na imprensa uma inverdade. Ele disse que os médicos eram inocentes, disse que tinha sido constatada a morte cerebral, botou na televisão. A pessoa que foi para a televisão dar a notícia chama-se Irene Abramovich. Ela foi a relatora do processo do CRM que pediu a punição dos médicos. Ela foi para a televisão dizer que os médicos eram inocentes.
O Presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Dr. Heitor d’Aragona Buzzoni, no dia 29 de novembro de 1998, publicou uma nota na Folha de S.Paulo e nas publicações oficiais do CRM sob o título Foi constada a morte encefálica mesmo com essas arteriografias. A peritagem que foi feita no conselho foi feita pelo Dr. Manreza, que é o chefe, foi quem implantou o critério, o protocolo de morte cerebral no Hospital de Clínicas de São Paulo. E a peritagem foi feita por ele, que constatou o óbvio, que os pacientes tinham fluxo. Ainda assim, mesmo tendo essas chapas no processo, ainda tendo essa peritagem, o Presidente do Conselho tornou oficial uma nota que diz que foi constada morte encefálica. O jornalista procurou o Presidente do Conselho para uma entrevista. Eu vou ler o que está escrito, publicado na Folha de S.Paulo, no dia 30/11/1988. O Presidente do CREMESP, Heitor D’Aragona Buzzoni, afirmou que o documento esse em que foi constada a morte encefálica foi emitido em função de pressões que a entidade o CRM sofreu de lobbies poderosos que são a favor da política de transplante no País. A respeito de quem encabeçaria o lobby de transplantes, Buzzoni disse que era coisa do Emil Sabbaga, nefrologista chefe do serviço de transplante renal do Hospital de Clínicas e do Hospital Oswaldo Cruz, uma pessoa poderosa e com muitas influências. Segundo ele, o melhor seria, virando para o repórter, que você publicasse somente a nota, e o caso estaria encerrado. Como sou seu amigo, posso afirmar que esse lobby tem influência junto à direção da Folha de S.Paulo. Por quê? Ora, o Dr. Adib Jatene é médico do Frias de Oliveira que é o dono do jornal. Se você insistir muito nesse caso, poderá acabar perdendo o seu emprego. Estou dizendo isso porque sou seu amigo.
Deu para perceber o nome dos envolvidos? Voce acha que este caso esta na justiça a 23 anos por qual motivo?
Emil Sabbaga, citado no depoimento acima, e que era quem encabeçaria o lobby de transplantes forçando o CRM e CFM a absolver os medicos, era quem recebia os rins retirados em Taubate para transplanta-los em seu rol particular de clientes. E por isso, nunca foi comprovado o trafico de orgaos. Ele nao permitiu!
As autoridades sabem disso, e sabem como aconteciam os fatos, e sabem para quem eram destinados os orgaos, e sabem que pagavam por isso. Mas nao conseguiram comprovar, ahahahahahaha, a existencia de trafico de orgaos. Dizem, "Falta o recibo".
Como ja afirmei varias vezes aqui neste blog, deveriamos libertar todos os traficantes de drogas, a menos que as autoridades nos mostrem recibos das drogas vendidas. Tem?
Sobre morte encefalica.
Para quem nao entende do assunto, quando uma arteriografia apresenta fluxo sanguineo, significa que o cerebro esta vivo e nao morto como os medicos desejariam. Para dar andamento aos transplantes, muitos, ainda hoje, ignoram este exame e retiram os orgaos de pacientes que ainda estao vivos. Estes pacientes sentem dores e tem consciencia do que acontece, embora nao consigam se expressar. No caso de Taubate, as vitimas estavam tao conscientes que se debatiam enquanto os orgaos eram retirados, fato confirmado por enfermeiras que acompanharam a cirurgia.
Como estamos falando de Brasil, onde um crime pode nao ser crime dependendo de quem é o acusado, este caso tem tudo para acabar em pizza como tantos e tantos outros. Basta lembrar que sao 23 anos que os medicos deveriam estar reclusos, mas viveram a plenitude da vida, exercendo a profissao e protegidos pelo CRM e CFM. Logo, e como sempre, quem perderam foram as vitimas e seus familiares, muitas vezes doando por serem pressionados por atos sujos como o uso de uma "medium" espiritual. E mais. Perdeu Kalume que viveu anos infernais dentro da profissao por ter feito o basico e fundamental: Denunciou o crime! Kalume quase perdeu seu registro por ter feito o que todos deveriam fazer, e por respeitar o codigo de etica medica.
Doar é um ato de amor nao é mesmo!!!
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