Desembargadores comprados

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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quem cala consente

Martin Luther King disse:

O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.

Mais de 70.000 pessoas estao na fila de espera por um orgao. Mais de 70.000 sabem que dependem de um sistema corrupto e cheio de fraudes. Mais uma vez, a fraude na fila de espera para um transplante é escancarada e nao se ve um so movimento das organizaçoes que dizem lutar pelos transplantes. Nao se ve uma so entidade exigir que a fila seja respeitada. Mas se ve meia duzia de transplantistas, gritando pela internet que o sistema é a prova de fraudes.

O que acontece com aqueles que estao na fila e diante de noticias como esta se calam? 

A resposta é simples. Se alguem ousar levantar a voz, pode ficar sem a pequena chance de receber um orgao. Se eles possuem o controle da lista, nada os impede de simplesmente excluir os indesejados, e deixa-los a beira da morte. E é isso que aponta o TCU na sua ultima auditoria realizada. A fila pode ser modificada a qualquer momento, por qualquer um, sem que ninguem saiba.


Sao 70 mil pessoas escravizadas pela doença e que sao obrigadas a manter a boca fechada. Elas estao organizadas em associaçoes que pouco fazem para mudar isto. Estranhamente, parece que recebem a noticia como se ja soubessem. Alias, no Brasil, é sempre assim: "Isso é assim mesmo."

A transparencia do sistema publico de transplantes pode ser lida neste item da auditoria, pagina 6:
1.5. Limitações
19. Houve duas limitações ao trabalho realizado. A primeira é referente ao não fornecimento da base de dados do Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG), que apoia as atividades do Sistema Nacional de transplantes (SNT). A base de dados foi solicitada pela equipe em 22/11/2010 (peça 13, p. 4-5), mas, por uma questão de sigilo médico alegada pela Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (SAS/MS) (peça 9, p. 1), não foi disponibilizada à equipe até a apresentação do relatório ao supervisor da fiscalização (peça 11, p. 1; peça 12, p. 1). O acesso às informações da base de dados teria permitido, dentre outras ações, uma análise dos dados à luz do regulamento do SNT, comparando, por exemplo, as regras de seleção de receptores com os resultados de seleções presentes na base.
20. A outra limitação refere-se à ausência de contato direto da equipe de auditoria com a equipe de desenvolvimento do SIG. A equipe solicitou ao Datasus autorização para que a equipe de desenvolvimento do SIG fornecesse dados e respostas às solicitações de cunho eminentemente técnico sobre o Sistema, diretamente à equipe de auditoria, pessoalmente ou via endereços eletrônicos dos auditores, com cópia para o Datasus, de maneira a agilizar o fornecimento de informações, ante ao alongado prazo em que as mesmas estavam sendo repassadas à equipe (peça 13, p. 1, item “c”).
21. Em resposta (peça 10, p. 3-4, item “f”), o Datasus apresentou, como alternativa à solicitação da equipe de auditoria, uma interlocutora (Coordenadora de Desenvolvimento do Sistema de Saúde), e não autorizou o acesso direto à equipe de desenvolvimento.
22. Assim, durante os trabalhos, a equipe de auditoria não teve contato com a equipe de desenvolvimento, que é terceirizada e localizada em São Paulo, impedindo a realização de entrevistas, por exemplo, que permitiriam a execução do trabalho em menos tempo.
O Ministerio da saude proibiu que a auditoria tivesse acesso ao banco de dados, ao mesmo tempo em que muitos, sem qualquer qualificaçao ou motivo, conseguem modifica-lo. O Ministerio da Saude proibiu o acesso a equipe de desenvolvimento do software - situado em Sao Paulo - impedindo assim que auditoria conhecesse melhor o que acontece no sub mundo da fila de espera.

E ninguem achou estranho!


O que posso concluir é que sao 70.000 pessoas, silenciosamente em uma fila, caminhando para um final tragico, sem aparentemente se importar com o que estao fazendo. Sao pessoas que dizem lutar pela vida, mas seguem o caminho da morte em silencio. 

Durante o nazismo, boa parte dos judeus que ficaram nos guetos, acreditavam que o exterminio em massa era algo impossivel. Eram boatos! Mais cedo ou mais tarde eles eram colocados no trem para Auschwitz com a promessa de trabalho. Ao desembarcarem, descobriam que estavam na verdade sendo levados para as camaras de gas. 

Mas ja era tarde.

Um comentário:

brunoalex4 disse...

É meu amigo.

Neste país as instituições foram feitas para não funcionar, ou para funcionar para quem é cidadão(leia - se rico e poderoso).Uma prova de que o brasileiro é apático e inerte, é o fato de que, no meu facebook, fiz propaganda do seu blog e ninguém nem sequer curtiu.Tomei esta iniciativa ao ver que,lendo o seu blog durante dois dias, só havia 1 ou no máximo 2 visitantes on line. Talvez se tivesse postado alguma bobagem qualquer teria sido diferente.Mas não tem problema não.Hoje é mais um feriado na República da Preguiça, as pessoas estão fazendo churrasco, bebendo e falando sobre futebol enquanto o país caminha a passos largos para destruição.