A cor verde acho que foi escolhida por causa do dólar. Esta turma gosta de uma verdinha. Eles queriam mesmo a cor vermelha, mas seria uma confusão danada.
Pela primeira vez, vou descrever como funciona o processo de doação de órgãos do início ao fim. Trata-se de um pequeno relato imaginário, obviamente, mas que acontece todos os dias.
A enfermeira telefona para o médico de emergência que faltou ao plantão.
- Dr., aquele paciente que cortou a sola do pé em uma garrafa quebrada e está aqui na maca do corredor está reclamando muito de dor. Ele não que ir embora enquanto não dermos a ele algum remédio. Já tiramos tudo que ele tinha, soro, travesseiro, água e ele ainda quer ser atendido. O que faço?
- Hummm.... Como é o nome dele?
- João das dores.
- Ele tem Facebook?
- Não sei. Deixe-me ver. Aqui! Tem sim.
- Verifique o status de doador de órgãos, por gentileza.
- Ele é doador, dr.
- Ah bom. Isso muda tudo. O caso dele é grave. Avise a família que ele vai ser levado para a UTI urgente.
- Mas é só um corte no pé!
- Enfermeira. Código vermelho. Este paciente está morrendo. Estou indo para o hospital agora.
A enfermeira se dirige ao paciente e sua esposa e comunica as ordens do médico. Uma UTI, que já estava reservada para casos de doação de órgãos, o recebe rapidamente.
- Por favor enfermeira. Eu sou a esposa e gostaria de saber o que está acontecendo.
- Eu falei com o médico e ele disse que o caso do seu marido é grave. Tanto que está vindo imediatamente para cá.
- Mas o que ele tem? Não é só um corte no pé?
- Não! É muito mais sério do que isso. Assim que o médico chegar ele explica.
O médico entra no hospital correndo e desesperado. Onde está o paciente? grita para a enfermeira.
-Está na UTI doutor.
- Ótimo. Vamos medicá-lo. De a ele uma ampola de pavulon e outra de cloreto de potássio.
- Mas dr! Estes são componentes da injeção letal americana!
- Sim, mas você parece que não entende. Estes medicamentos nos EUA tem outros efeitos do que os mesmos medicamentos no Brasil. Os americanos são capitalistas, imperialistas e lá tudo é diferente. Aqui estes medicamentos são essenciais para tentar salvá-lo. Faça o que eu mandei.
A enfermeira aplica os medicamentos prescritos e em poucos minutos o paciente começa a passar mal. A esposa questiona a enfermeira:
- O que você fez? Ele está morrendo!
- Eu falei para a sra. que o caso era grave. Estamos tentando de tudo para salvá-lo. E ele, na verdade, já está morto.
- Mas ele está se debatendo! Não está vendo!
Neste momento entra o médico na UTI e acalma a esposa.
- Minha senhora. A senhora é leiga. Isto são espasmos. Ele infezlimente faleceu.
- Mas ele está apertando a minha mão! Como pode ter morrido?
- Senhora, eu como médico, já vi exumação de cadaver lendo biblia. Alguém colocou uma biblia no caixão e o morto tentou ler, graças aos espamos. Mas tava morto.
Em poucos minutos aparecem 4 médicos e 2 assistentes sociais.
- Olá senhora. Estamos muito comovidos com a morte do seu marido e estamos aqui para apoiá-la e dar todo o conforto. A senhora quer um café, chá, chocolate, bombons?
- Não. Eu quero saber o que está acontecendo!
- Eu sei que é difícil aceitar a morte, mas nós temos uma solução!
- E qual seria?
- Seu marido, antes de morrer, disse que queria ser doador de órgãos. Até publicou isso no Facebook. O que precisamos fazer agora é atender seu último pedido. Além disso, a senhora gostaria que ele continuasse vivendo não é mesmo? Então! Ele vai viver em outra pessoa, mas continuara sendo seu marido. Não é lindo!
- Bom, se era o desejo dele, tudo bem.
Os médicos providenciam a retirada dos órgãos e enviam material para exames de compatibilidade. Com o resultado em mãos, iniciam a busca pelo receptor adequado.
- 50 mil e não se fala mais nisso. Diz o médico ao telefone.
É hora de comunicar a esposa.
- Senhora. Já achamos uma pessoa que está precisando muito de um rim. Seu marido vai salvar a vida de uma pessoa muito importante! Deveria ter orgulho disso!
- Eu vou poder conhece-lo?
- Hummm.. conhece-lo não, mas eu prometo que vou mostrá-lo a sra.
Dias depois, a esposa procura o hospital.
- Então doutor, posso conhece-lo?
- Sim. Vamos até a janela. Está vendo aquela Ferrari? Ele esta la dentro. É o dono do carro. Faça um gesto para ele.
E esposa acena e o dono da Ferrari retribui o gesto. Liga a Ferrari, e vai embora.
- Que carro seu marido tinha?
- Uma kombi. Era feirante.
- Está vendo o que é a maravilha dos transplantes. Agora ele tem uma Ferrari!
- É. responde a viúva.
Após a viúva deixar o hospital o médico faz um telefonema.
- Quem está falando? - pergunta o médico.
- É o Jarbas dr. Hoje sou eu o chofer.
- Ok Jarbas. Obrigado. Agora por favor, leve a minha Ferrari para casa, mas não estacione atrás do Porsche porque eu vou usá-lo hoje.
- Pode deixar patrão.
Ao desligar o telefone, uma notícia que deixa o dr. abalado.
- Dr, o paciente transplantado morreu de infecção generalizada.
- Putz! Como isso pôde acontecer?? Quem estava acompanhando o caso?
- Os estagiários, dr. como o sr. mandou.
- Que droga!!!
- Ela já era idoso dr. Tinha poucas chances.
- Eu sei! Mas ele não pagou a segunda parcela ainda. Eles poderiam ter segurado mais um pouco.
Um mês depois, a esposa desconfia que algo está errado e procura o médico.
- Doutor, eu vim aqui porque quero ter uma cópia do prontuário do meu falecido marido.
- Eu não posso entregá-lo senhora.
- Por que não?
- Porque ele pertence ao paciente.
- Certo, eu sou a esposa dele.
- Sim. Esposa é esposa. Paciente é paciente. Como o paciente morreu, o prontuário não pode ser entregue a niguém. Se quiser, procure um advogado.
- Ok. Vou fazer isso!
O médico telefona para a enfermeira.
- Enfermeira, onde está o prontuário do João das Dores?
- Está aqui.
- Por favor, eu tentei entregá-lo a família e a viúva disse que não quer. Pode destruí-lo por gentileza?
- Claro doutor.
- Obrigado!
E assim termina uma bela história de amor, que é a doação de órgãos.