A Mafia é mesmo uma coisa impressionante. Eles tomam conta do estado em todas as instancias. A justiça esta calada, promotores calados, e agora começam a unir forças para validar assassinatos de crianças, usando a teoria de que para salvar um, podemos matar outros.
Vittorio Medioli, dono do Jornal O Tempo, ex-deputado federal pelo PSDB e tambem empresario dos transportes, escreveu um texto muito interessante, onde implora para que deixemos salvar vidas!
Nao é lindo? Ele foi transplantado em 2011, quando precisou de um figado para viver. A vida dele dependia de uma criança como o meu filho. Para Medioli, nao ha problema algum em matar uma criança para salva-lo. Esta é a gratidao de quem recebe um orgao. Dane-se o doador! A minha vida é mais importante.
Vamos ver! Meus comentarios estao em azul
Neste ano, a doação de órgãos para transplantes, em Minas, caiu. O esforço realizado, na última década, para conscientizar a população de que a doação representa a salvação de outra vida se complicou aqui, em Minas, e, por certo período, quase parou. A imprensa, em seu papel de informar, deu luz a um caso de suposto "tráfico" de órgãos que teria ocorrido no Sul de Minas, até 2001, envolvendo médicos, políticos e gente conhecida em sua região. Se as pessoas citadas são culpadas ou inocentes, não sei dizer, não conheço os detalhes do caso, nem posso avançar conclusões que cabem apenas à Justiça.
Caro Medioli. Se nao sabe se sao culpados ou inocentes, se nao conhece os detalhes do caso, entendo que nao seria inteligente da sua parte entrar nesta discussao. Mas ja que o fez, as provas estao anexas ao processo e podem ser lidas em meu blog. Se voce conseguir desmentir qualquer uma das provas, eu apago meu blog ok? Da mesma forma, eu nao pretendo entrar no merito da evasao de divisas da qual voce foi acusado, cujo processo - como sempre acontece em Minas, quando o bandido é politico - prescreveu.
Li algumas manchetes de arrepiar, matérias sangrando, e como receptor de um fígado, transplantado em 2011, me apercebi de impropriedades nas reportagens, que agravam mais do que é necessário para um julgamento isento. Para se fazer uma justiça, se arrisca, aqui, fazer muitas injustiças. Não pretendo eu ser o juiz do caso investigado, mas vou me prestar a uma espinhosa exposição.
Nao pretende ser o juiz, mas vai dar a sentença? Mesmo sem conhecer detalhes do caso? Vamos ver onde isto vai chegar.
Digo espinhosa porque meus familiares me pediram para evitar entrar nisso, poderia haver sempre esses "insensatos" para levantar aleivosias, infâmias, ironias, aproveitando-se do clima incendiado que cerca esse caso. Pouco me importa. Venham críticas e pedradas! Se esse meu esforço servir para recuperar a confiança de doadores de órgãos, estou disposto a ser sepultado de pedras.
Para recuperar a confiança dos doadores, basta prender aqueles que distorcem o sistema, matam pacientes, e vendem orgaos. Simples! Da mesma forma que, para confiarmos na justiça, é preciso que evasores fiscais, sejam condenados e presos. Quando a justiça falha nestes dois casos, nao se pode exigir que uma pessoa seria confie em doar orgao e muito menos na justiça.
Conheço o drama e o vivi na pele. Tive que entender e aceitar como é possível que, de uma morte acidental e trágica, possam ressurgir outras vidas. Estou aqui escrevendo em função de um desses milagres que me tocaram, como tocaram muitos outros "sobreviventes". Estamos aqui quase sem saber como tudo se deu. Investigamos essa estranha razão de podermos ainda ficar de pé, trabalhar e nos prestar para alguma atividade.
O parabenizo pela recuperaçao. Pelo fato de poder ficar de pé, trabalhar e prestar-se a alguma atividade, ainda que seja evasao fiscal. Meu filho de 10 anos nao teve a mesma chance. Ele foi sedado e teve os orgaos retirados para salvar alguem como voce. Meu filho tinha pela frente, pelo menos mais 50 anos de vida. O sr. Medioli tem 62 anos, e ao que tudo indica vive agora a base de medicamentos contra rejeiçao dentre tantos outros. Quantos anos o sr. espera viver ainda? Quantos mais doadores serao necessarios para que o sr. sobreviva - quem sabe - mais uma decada?
Merecer um órgão significa entrar e ficar numa fila em que o avanço é determinado pela gravidade confirmada por análises clínicas que se renovam a cada 30 dias. Essa lista é acessível pela internet e está à disposição de qualquer profissional de saúde ou outro. Não há a menor possibilidade de avançar fora da "gravidade"; dezenas de hospitais e milhares de pacientes ficam ligados à lista.
Nao ha nada mais facil do que burlar a lista. Basta fazer o que Alvaro Ianhez, chefiado por Mosconi, fazia. Ele possuia listas proprias de pacientes que recebiam os orgaos. Informavam a central que o orgao nao poderia ser enviado, e os implantava em pacientes locais mediante pagamento.
Lembro-me, com emoção, das comemorações quando chegava a notícia: "Pai, você piorou!", ou seja, se aproximou mais um pouco da cabeça da lista. "Está em 56º lugar...", e, dia após dia, cada vez mais descompensado: "Pai, chegou ao terceiro", sendo que, nesse lugar, poderia acontecer a qualquer momento dependendo do tamanho do órgão disponibilizado e do grupo sanguíneo. Psicólogos das equipes de transplantes ainda enfrentam, nessas circunstâncias, um grande drama. Terem que convocar o parente mais próximo do possível doador, normalmente a mãe, para explicar: "Seu filho nunca mais vai se levantar, falar, lhe dar um aceno. Morreu, irreversivelmente. Morreu. A falta de sangue no cérebro já queimou os tecidos cerebrais. Nunca mais poderão se regenerar. Agora resta à senhora uma decisão, e quanto mais rápida esta for, mais possibilidades teremos de preservar outras vidas, que dependerão de um ou mais órgãos que se encontram no corpo de seu filho". Ainda é dito para essa mãe ou pai ou esposa: "Nunca saberá o nome de quem será salvo, e se será salvo. O receptor, por sua vez, nunca poderá lhe agradecer, a senhora nada vai receber a não ser a certeza de que essa sua decisão poderá preservar uma vida condenada".
Isso é extremamente árduo. Esse escândalo no Sul de Minas já gerou outras mortes de pacientes que, na fila de espera por um órgão, faleceram antes de ter essa possibilidade. Muitos passaram a associar a retirada de órgãos a um "tráfico" e coisas ainda piores.
Medioli insinua que o caso Pavesi foi o causador da morte de muitas pessoas que nao puderam receber um orgao porque os transplantes foram suspensos em Poços de Caldas. Vejamos entao o que disse o delegado Celio Jacinto dos Santos na CPI do Trafico de Orgaos. Caso o sr. Medioli nao consiga ler, posso lhe enviar o audio, se desejar:
Audiencia publica de 03/08/2004 - CPI DO TRAFICO DE ORGAOS
Numero: 1008/2004
Depoentes: CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Delegado da Polícia Federal, SEBASTIÃO RAIMUNDO COUTIUNHO – Doador,
ROOSEVELT KALUME - Médico, MARCELO NEGRINI – Promotor da 2ª Vara Criminal de Taubaté.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - Nós queremos agradecer a participação dos Parlamentares. Eu queria só tirar uma dúvida com o Dr. Jacinto. Eu não sei se eu entendi bem na explanação do senhor, quando o senhor fala — e vamos deixar claro também — que essas mortes que estão ocorrendo no sul de Minas por falta de transplante não são comuns apenas no sul de Minas, existem milhares de pessoas no Brasil morrendo por falta de transplante. Não podemos colocar a culpa no caso do Paulo Pavesi pelo fechamento, as irregularidades não foram cometidas por ele, foram pelos médicos. As irregularidades foram encontradas pela auditoria do Ministério da Saúde e foi o Ministério Público que pediu o descredenciamento da Santa Casa e fechou o sistema de transplante. Então, não podemos colocar a culpa em quem denunciou das irregularidades que foram cometidas pelos que praticaram as irregularidades. Outra coisa: o senhor falou que, caso o Ministério da Saúde queira resolver o problema, existem cidades vizinhas, como a de Pouso Alegre, que o senhor citou, que têm equipe de transplantes, têm hospitais capacitados e aptos para serem credenciados para se realizar transplante. Já estão credenciados?
O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Já estão credenciados. O sistema existe legalmente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Neucimar Fraga) - E por que não são realizados os transplantes lá então, do sul de Minas, nesses hospitais? O senhor disse aí que talvez exista uma força que queira impedir que outras equipes transplantistas façam o transplantes, que esse serviço continue nas mãos do Dr. Álvaro Ianhez, é isso?
O SR. CÉLIO JACINTO DOS SANTOS - Pelo menos que não se faça em outro lugar que não seja Poços de Caldas.
Como o sr. Medioli pode perceber, se ele estivesse morando no Sul de Minas, e precisando de um rim, provavelmente teria morrido. Nao porque eu denunciei. Mas porque ha uma mafia que nao aceitava que os transplantes fossem realizados em outra cidade, nas maos de gente honesta.
O que posso dizer, ainda, é o que ouvi de pessoas qualificadas: "Apesar do que foi escrito, esses médicos serão tardiamente inocentados...". Seriam estes vítimas de um tremendo equívoco, como se tratou no caso da "Escola de Base" em São Paulo. Parecia "ser", mas as apurações mostraram "não ser". Tarde demais.
Sr. Medioli. Este caso sera conhecido como a escola de base as avessas. As provas existem, uma pessoa foi assassinada a tiros, e muitos doadores foram assassinados. Estao afastando juizes, promotores, e quem quer que seja, para que a sentença seja uma so: Absolviçao. Chegamos ao ponto de perceber que até decisoes na primeira instancia serao anuladas.
O tempo é senhor da verdade, mas, pelo amor de Deus, parem! O sensacionalismo, a cada dia, mata mais gente. Deixem a Justiça agir, gastem tinta para ajudar gente que sofre, que depende de um doador. Estimulem a doação, que significa salvar gente. Ajudem essas mães a optarem por uma generosidade que, em seguida, lhes dará um imenso conforto: "Uma parte de meu filho vive e ainda dá vida a alguém". O doador não morre. Tem situações em que a imprensa pode e deve ter grandeza. Esse é meu apelo.
Qual grandeza? A de ficar calada e deixar que pessoas sejam assassinadas?
Como podemos ver, a teoria é simples. Matamos os Paulinhos e salvamos os Vittorios. E que a imprensa se cale pois as coisas ja estao sendo ajeitadas nos tribunais.
ATENCAO DOADORES DE ORGAOS. VOCE PRECISA SABER DISSO.
Em Sao Paulo, duas medicas foram presas em flagrante arrancando as corneas de pacientes mortos para vende-las fora da fila de espera. Isto aconteceu no Hospital Tatuape. As medicas foram condenadas. Pouco tempo depois, nao se sabe por qual motivo, o tribunal anunciou a ANULACAO DA CONDENACAO.
Em Taubate, nos anos 80, o mesmo esquema descoberto por mim em Poços de Caldas, aconteceu na HOSIC. Quatro medicos matavam pacientes e enviavam os orgaos para o presidente da ABTO na epoca. O processo arrastou-se por mais de 23 anos. Em 2011 os medicos foram condenados a 17 anos de prisao. No entanto, entraram com recursos para anular o julgamento. E ao que tudo indica, vao conseguir.
O mesmo esta acontecendo com Poços de Caldas. A mafia nao aceita outra decisao que nao seja a absolviçao apesar de todas as provas. O administrador do hospital onde os crimes aconteciam foi assassinado pela mafia apos grampear os telefones do hospital.
Caro doador de orgaos. Quando voce for procurado por uma assistente social e esta lhe solicitar que doe os orgaos de alguem querido, lembre-se deste texto. Nao ha qualquer esforço para salvar um potencial doador de orgaos. O transplante é um dos procedimentos mais rentaveis da medicina brasileira. Se esta situaçao de impunidade continuar, cada vez mais serao assassinados doadores de orgaos sob o pretexto de salvar outras vidas. Nada pode ser mais importante que a sua vida ou de alguem querido. DIGA NAO A DOACAO DE ORGAOS E A IMPUNIDADE DE ASSASSINOS DE DOADORES. A proxima vitima pode ser o seu filho!
Eu nao tenho nenhuma açao na justiça para obter indenizaçao. Eu fui doador dos orgaos do meu filho porque acreditava no sistema. Eu nao tenho interesse nenhum em destruir um sistema de transplante. Meu unico interesse é mostrar o que estao fazendo com pessoas que amamos. Veja o interesse destas pessoas! Eles lucram com isso. Eles lucram com a sua vida e com a impunidade.
Se esta mafia conseguir a impunidade, ninguem mais estara seguro nos hospitais do Sul de Minas.
Quem é Vittorio Medioli?
Medioli foi acusado por crimes contra a Ordem Tributária (evasão de divisas), ou seja, remessa de dinheiro para o exterior ilegalmente. Quase 10 anos de tramitação do processo na Justiça não foram o bastante para que houvesse uma sentença sobre o caso, o que pode ter provocado a prescrição do crime. O inquérito 1376 tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF) até março de 2007. Mas, seus crimes não ficam aí, é só puxar a ficha. No maior rastreamento internacional já realizado pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal, atingindo contribuintes que movimentaram ilegalmente recursos no exterior em operações através do antigo Banestado (Banco do Estado do Paraná), o nome do dono do jornal O Tempo Betim está lá. Então deputado federal pelo PSDB, Medioli consta no relatório final da CPI mista do Banestado como um dos parlamentares que realizaram operações internacionais ilegalmente. Por desavenças ocorridas durante a CPI, até hoje inexplicáveis, o relatório final não foi aprovado, mas pelo menos apontou quem cometia os desvios de recursos por meio das chamadas contas CC-5, pela agência do Banestado em Foz do Iguaçu (PR). A documentação da CPI foi entregue na época à Corregedoria da Câmara, à presidência da Câmara dos Deputados e à presidência do Senado. As investigações foram realizadas de 2003 a 2006 pela força-tarefa dos três órgãos federais, que constatou que houve uma evasão de divisas na ordem de US$ 30 bilhões.