Desembargadores comprados

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sábado, 23 de maio de 2015

Boato às avessas

Um boato pode ser um bode na sala.

Para quem não conhece a história, trata-se de um senhor (dono do bode) que coloca seu animal na sala de um vizinho para conseguir alguns trocados, sem que o mesmo soubesse. O bode não atendia ao comando de ninguém, exceto do dono. Ao tentar expulsar o bode, ele tornava-se violento e tentava chifrar todos os moradores da casa. Ao mesmo tempo, além do odor terrível, o bode devorava móveis, estofados e também a comida na despensa. Cansado, o morador visitou o vizinho (dono do bode) e lhe contou o problema. O dono do bode prontamente foi até a residência e retirou o bode com um simples sinal, apontando a porta da rua para o animal, que deixou imediatamente o ambiente. O vizinho ficou muito feliz e deu em recompensa uma boa quantia em dinheiro.

Este é o boato. Ele é distribuído para causar algum problema e trazer certos benefícios para quem o espalha. O caso Paulinho foi tratado como boato e ainda é por muita gente. Não fossem as provas, tudo já teria sido ridicularizado. Mas o que vemos é a condenação de muitos envolvidos e a prisão de alguns.

A ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) é uma entidade que se utilizou recentemente de um boato para obter mais doadores de órgãos. Chiquinho Scarpa anunciou em seu Facebook que enterraria o seu Bentley, um carro luxuoso e caríssimo. Toda a imprensa voltou os olhos para o comendador e no dia marcado para o enterro descobriram que era um boato. A idéia era chamar a atenção de que podemos doar os órgãos após a morte e não deixá-lo apodrecer em uma sepultura. A idéia é ótima, mas Chiquinho não vai doar o seu Bentley para um desconhecido quando morrer, logo, tudo não passou mesmo de um boato. E milhares de pessoas aplaudiram. Acharam a idéia ótima sem se dar conta de que ele está pregando exatamente o contrário. Ele provou que jamais abriria mão de seu bem por um desconhecido. Ele só emprestou o carro e em seguida o colocou de volta a garagem.

A criatividade do brasileiro é algo impressionante. Se tal criatividade fosse utilizada para o bem, o Brasil seria um país reconhecido mundialmente pela inteligência de seu povo. Mas infelizmente não funciona assim. A criatividade é utilizada de modo malicioso, com intento de conseguir vantagens e mais vantagens. O famoso jeitinho brasileiro. 

Há alguns dias escrevi um texto sobre um boato que circulava no Facebook sobre uma Van ou Kombi que estava aliciando crianças para o tráfico de órgãos. Obviamente a história é boato. Qualquer cidadão minimamente informado, saberia que isto não seria possível. Principalmente em Roraima, onde ocorreu o fato.

Mas... e sempre temos que pensar em um "mas", a história pode ser sim, uma armadilha de alguns espertinhos. Nós sabemos muito bem como o brasileiro é manipulado diariamente não é mesmo? Então resolvi dar uma espiada com mais cuidado nesta história e vou compartilhar a minha conclusão.

Van no momento da apreensão em Blitz
Uma manicure denunciou em seu Facebook a presença de uma "Kombi" que estava abordando alguns pais para fotografar as crianças. Em troca, segundo as notícias e até comentários de moradores, a empresa oferecia bolas de graça para as crianças. O comentário incendiou a rede social e em pouco tempo todos estavam compartilhando. Mesmo com o boato estourando na rede, a polícia não procurou pelo veículo e não se manifestou sobre o assunto, até que este carro foi parado em uma blitz (foto) onde verificou-se que não possuia a comprovação do pagamento do IPVA. O carro pertence a uma empresa sediada em Campinas, e os documentos estavam na sede da empresa. Como de costume, a Van foi recolhida para o páteo, até ser regularizada. 

E ai começam as dúvidas. 

Trata-se da empresa Bela Imagem, com sede em Campinas e funcionando há mais de 8 anos. O Brasil é um país onde todo cidadão é livre para ir onde bem quiser. Mas algumas perguntas precisam de respostas, quando um caso como este perturba a tranquilidade da população.

1. Por que a empresa deslocou uma Van, com uma pequena equipe, mais de 3.000km para fotografar crianças em Roraima? Por que tão distante? 

2. Quanto gastaram com hotéis, refeições, combustível e demais despesas nesta viagem?

3. A região de Roraima é tão atrativa que vale a pena este investimento?

4. Para uma viagem com mais de 3.000km de distância, não seria prudente levar os documentos da Van?

5. Qual o lucro uma empresa de pequeno porte pode obter distribuindo bolas, viajando 3.000km a bordo de uma van, e fotografando sem cobrar nada das famílias? Quem hoje no Brasil investe em um projeto tão ousado, além de passadena obviamente?

Como sempre, a nossa polícia não se interessou por estas perguntas e limitou-se a dizer a imprensa que a Van nada tinha a ver com o crime (sic). Que crime? Não foi cometido nenhum crime! Não havia sequer denuncia, como a própria polícia revelou ao Jornal Extra de Roraima. Afinal, de que crime a polícia estava se referindo?

Bem, caros leitores. A polícia estava se referindo ao crime de tráfico de órgãos, que obviamente não era o caso.

Embora as perguntas não tenham sido respondidas, até porque sequer foram perguntadas, a Van foi liberada e a vida voltou ao normal. A empresa passou então a fazer uma grande campanha contra o "boato". Afinal, tráfico de órgãos não existe não é mesmo?

Antes de escrever este texto, entrei no site da empresa para enviar as perguntas acima. Para a minha surpresa, logo de cara aparece um quadro dizendo que tudo é boato. Se alguém não sabia da história que aconteceu em Roraima envolvendo o nome da empresa, ao acessar o site vai saber. Mas a área de contato está desativada e não encontrei um e-mail para poder me comunicar com este pessoal. Aliás, fato estranho. Alguém que está em procura de novos mercados, como o de Roraima - a 3.000km de distância - não tem sequer um formulário de contato ou endereço de e-mail em seu site. 

Conclusão

Estamos diante de um boato às avessas. Cria-se um fato para dizer que tudo o que envolve tráfico de órgãos é boato. O resultado é que qualquer um que divulgue histórias como a do Paulinho sejam taxados de boateiros. Isto cheira a ato pensado.

Só resta saber quem financiou esta viagem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se for pra ser taxado como boateiro por divulgar um caso tão horripilante ocorrido neste país de merda, como o que ocorreu com o seu filho, pode ficar tranquilo, ficarei muito lisonjeado, pois faço isso diariamente, na fila do banco, em casas lotéricas, no trabalho, no estádio de futebol, na faculdade, na praia etc.. Lugar de médico vagabundo, lugar de juiz corrupto, lugar de promotor de justiça safado, lugar de delegado sacripanta é no inferno de uma imunda cadeia brasileira...

CABO USB disse...

Eu tb faço como o amigo comentou acima. Minha arma com o que fizeram com vc é a minha boca, onde eu vou, na primeira oportunidade falo neste caso.