Em 1989, o candidato Paulo Maluf teve a infelicidade de pronunciar esta frase em uma palestra na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Obviamente que o uso da frase foi distorcido. Ele dizia indignado que, caso alguém tivesse a intenção de estrupar, que o fizesse, mas não matasse a vítima. Ou seja, além de estuprar, ainda vai matar? Mas no Brasil, tudo é muito fácil de ser manipulado. Um ajuste aqui e outro acolá, e pimba! Maluf é conhecido até hoje por ter dito esta frase.
E por que estou escrevendo isto? Porque Maluf mostrou ali a cara da sociedade brasileira. 60 mil brasileiros morrem todos os anos no Brasil, vítimas de violência. Em relação a isto, os brasileiros parecem não se preocupar muito. Não há uma única passeata para dar um basta nesta guerra civil. Mas quando falamos em estupro, ai a coisa pega. O estupro não é aceitável sob nenhuma hipótese, e nem deve ser mesmo. O assassinato parece não incomodar tanto, mas o estupro...
Nesta semana a Revista Veja falou sobre o lançamento do livro de Vana Lopes, vítima de Roger Abdelmassih, que a imprensa faz questão de chamar de ex-médico. Vale lembrar que se não fosse pelo empenho de Vana, Roger ainda seria médico e provavelmente nem condenado seria, já que o próprio Conselho Regional de Medicina de São Paulo, absolveu o estuprador de todas as acusações que pesavam sobre ele.
O título do livro é "A História de Vana Lopes. A Vítima que Caçou o Médico Estuprador Roger Abdelmassih". Com a ajuda de dois jornalistas, o livro relata todo o calvário desta vítima em busca por justiça. Lançado pela Editora Matrix, o livro aprofunda-se na história dando nomes e fatos. Afinal, o estupro é inaceitável.
O meu percurso não foi diferente de Vana. Aliás, foi muito mais difícil. Durou e ainda dura muito mais do que o caso Abdelmassih. Precisei deixar o país e recomeçar a vida do zero sem o meu filho. Vana ainda está viva e apesar de tudo, pode reconstruir o que sobrou partindo do que tinha restado. Eu não tive esta oportunidade.
A imprensa não se intimida ao falar de Abdelmassih e mostrar a sua imagem. Referem-se ao ex-médico como monstro, lixo humano e por ai vai. No caso Pavesi, ninguém se atreve a dizer nada. A imprensa muito menos. Qualquer texto sobre a acusação que pesa contra os assassinos, deve vir acompanhada da palavra "suposta".
O livro de Vana será publicado sem qualquer censura. O meu foi abortado em fase final de produção.
A conclusão que cheguei é que Maluf acertou a testa de uma sociedade hipócrita quando disse aquela frase. O caso de Vana, a sociedade não admite e a imprensa publica. O estupro é repugnante. Mas no caso Pavesi, a morte de uma criança parece não ser tão importante assim. a sociedade se cala e a imprensa não publica.
Em outras palavras, quando Maluf disse "Estupra mas não mata", não sabia onde estava entrando. Estuprar nunca!! Matar, talvez? Melhor morto do que estuprada? Sim! Parece que a sociedade brasileira pensa desta forma.
Eu não consigo achar respostas para este mistério, mas sei que ele existe. E para dizer a verdade, eu nem quero achar nada. A resposta será entregue ao povo brasileiro da forma como eles estão plantando. E os resultados devem aparecer em pouco tempo. Uma sociedade hipócrita e covarde, sentirá na pele que a justiça deve ser igual para todos. E quanto a justiça é diferente para alguns, a conta não tarda a chegar para todos.
De qualquer forma, parabéns a Vana pelo empenho e garra em alcançar este marginal. Não fossem vítimas como Vana, a impunidade reinaria por completo. Vida longa!
Um comentário:
A imprenda colocou essa ideia na cabeça das pessoas.
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