Desembargadores comprados

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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entenda o que esta em jogo nas propagandas pela doaçao de orgaos!

No Brasil é muito dificil obter dados estatisticos quando o assunto é saude publica. O governo brasileiro ainda nao se deu conta que a estatistica é a maior arma para diminuir os custos e aumentar a eficiencia. A falta deste tipo de informaçao acarreta custos desnecessarios e principalmente desvio de recursos essencias. Com isto, o governo leva a fama de ser ineficiente, apesar de todos os seus supostos esforços para mostrar o contrario.

A doaçao de orgaos esta na midia esta semana. A publicidade nos leva a crer que é otimo doar os orgaos. Se eu assistisse mais alguns videos que estao girando pela Net, talvez arrancasse meu figado para dar a alguem. Todos se sensibilizam e alguns correm para assinar documentos e falar com suas familias, pelo desejo de doar. Esquecem porem, que tal gesto depende de um pequeno detalhe: da sua propria morte. 

Se hoje voce solicitar ao Ministerio da Saude, um relatorio sobre UTIs, com dados sobre motivos de intenaçao, periodo de permanencia, recuperaçao e obitos, vai receber a resposta de que tais dados nao existem. Mas se perguntar quantos pacientes aguardam por um orgao, tal informaçao estara na ponta da lingua. O que lamentavelmente, tambem nao é verdade. Se fizermos uma analise detalhada em cada lista existente, descubriremos que a lista é bem menor do que anunciam. Quanto maior a lista, melhor para convencer as pessoas a doarem os orgaos. Ha listas com inscriçoes duplicidade, e muitos obitos que nao sao atualizados. Este descontrole foi apurado pelo TCU atraves de uma auditoria. 

O custo estimado de um leito de UTI é de R$ 90 mil reais. O custo para um transplante cardiaco por exemplo, é superior a isto. Se considerarmos que muitas vezes o coraçao precisa viajar de um estado a outro, com a ajuda de um aviao ou helicoptero, o custo pode chegar a R$ 200 mil reais por uma unica operaçao.

Qual a importancia destes dados?

Vou explicar. Encontrei um relatorio especifico sobre o atendimento de UTI de um hospital da regiao sul do pais. Mais especificamente, no Hospital Regional de Ponta Grossa. Os dados apresentados ali sao muito interessantes. As analises foram realizadas de agosto de 2011 a fevereiro de 2012. Neste periodo 64 pessoas foram internadas em UTI naquele hospital.

Das internaçoes, observaram o seguinte:

Acidente Vascular Cerebral (AVC) - 8 pacientes
Acidente Vascular Encefálico (AVE) - 9 pacientes
Arritmia cardíaca - 1 paciente
Broncopneumonia - 3 pacientes
Cetoacidose diabética - 2 pacientes
Choque séptico - 1 paciente
Crise convulsiva - 3 paciente
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) - 5 pacientes
Encefalopatia - 1 paciente
Epilepsia - 2 pacientes
Insuficiência Cardíaca - 3 pacientes
Insuficiência Respiratória - 4 pacientes
Intoxicação exógena - 6 pacientes
Miastenia gravis - 1 pacientes
Não identificado - 1 paciente
Pneumonia - 5 paciente
Traumatismo - 1 paciente
Tromboembolismo(pulmonar/venoso) - 3 pacientes.

Como podemos ver, AVC e AVE sao os maiores casos apresntados. E estes, por coincidencia, sao potenciais doadores de orgaos. Diz o relatorio que:

Em relação à situação da alta identificou-se que 34 pacientes obtiveram alta hospitalar, considerando que todos os pacientes internados na unidade de terapia intensiva do HRPG, quando recebem alta da UTI, são encaminhados para a clinica médica e/ou cirúrgica, com a necessidade de acompanhamento familiar. Dos 59 pacientes pesquisados 13 foram transferidos para outros hospitais do município de Ponta Grossa, por necessidade de atendimento de referencia que ainda não existe no HRPG e 12 pacientes foram a óbito.

Apesar da internaçao em UTI, 12 pacientes nao resistiram e foram a obito. Este é um dado triste, mas muitas vezes inevitavel. Mas a pergunta que faço é bastante simples:
Caso estes 64 pacientes observados no periodo, nao pudessem ser internados em uma UTI, qual seria o numero de mortos?
A importancia de uma UTI é indiscutivel! E o que sabemos sobre UTIs? Vejamos este outro texto publicado pela Associaçao de Medicina Intensivista Brasileira (AMIB).
A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) fez um censo das UTIs públicas e particulares em todo o Brasil e constatou que a portaria do Ministério da Saúde (MS), que determina que cada hospital tenha de 4% a 10% do total de leitos destinados a Unidades de Terapia Intensiva, não é seguida à risca. Um exemplo está na região Norte, na cidade de Icoaraci, cujo único hospital público não tem UTI. Quem dela necessita precisa ser transferido para Belém.
Mas o Ministério da Saúde informou que o número de leitos é proporcional à população de cada região e que hoje apenas três estados - Maranhão, Acre e Roraima - não têm o número mínimo recomendado de vagas. “O ministério tem feito um esforço. Somente em 2010, 1,8 mil leitos serão qualificados em todo o país”, aponta o secretário do Ministério da Saúde Alberto Beltrame.
O mapeamento quantitativo da Amib identificou 25.367 leitos de UTIs e mais de duas mil UTIs. Fato constatado é que 53,8% dos estabelecimentos com UTI encontram-se na Região Sudeste, contra 16,8% no Nordeste, 16,9% no Sul, 7,6% no Centro-Oeste e 5% na Região Norte. Nele observou-se a distribuição regional dos estabelecimentos que declaram possuir leitos de UTI; a caracterização dessas UTI’s segundo o tipo de leito, a disponibilidade de leito segundo a população residente e os principais equipamentos presentes.
O Brasil tem hoje 200 milhoes de habitantes e apenas 25.367 leitos de UTI, sendo que destes 25.367 é possivel que alguns estejam desativados ou abaixo das exigencias essenciais de uma UTI. Em outras palavras, o que temos hoje consegue atender o equivalente a 0,01% da populaçao. Por isso tantas familias estao sendo obrigadas a procurar a defensoria publica para conseguir uma vaga.

O numero de pessoas que aguardam um orgao para transplante é de aproximadamente 36 mil. Nao é um numero confiavel, e como ja disse, pode ser bem menor do que isso. Ainda que todos os brasileiros desejassem doar os orgaos, nao haveria estrutura para tanto e os transplantes nao seriam realizados. Ha ainda um outro dado importante, que raramente é divulgado pela midia: 70% das doaçoes de orgaos no pais é simplesmente desperdiçada! Os investimentos em publicidade para doaçao de orgaos que giram em torno de alguns milhoes poderiam estar sendo melhor investido em leitos de UTI.

A situaçao é grave! 

O numero de pacientes que estao se registrando na fila para a espera de um orgao tem aumentado a cada ano, por falta de um sistema preventivo de saude. Os procedimentos mais caros pagos pelo SUS sao justamente os transplantes de orgaos. A cada ano aumento o numero de profissionais interessados em transplantes, devido aos altos rendimentos proporcionados, alem obviamente, da fama e o status social de ser um "salvador" de vidas. 

Os verdadeiros herois nao sao os transplantistas, como prega a midia. Os verdadeiros herios sao os intensivistas! 

Ha um outro detalhe que nao é divulgado pela midia em relaçao a transplante de orgaos. Os transplantistas comemoram ano a ano o numero total de transplantes realizados, muitas vezes tratado como "recordes" e metas a serem superadas. Mas nao sao divulgadas a qualidade destes transplantes, ou mais objetivamente, o beneficio que tais cirurgias trouxeram a seus pacientes. Ha casos de pessoas que recebem 3 rins em um curto periodo de tempo, e estao na fila a espera de outro orgao. O numero de pessoas mortas apos transplante tambem nao é revelado. Nao é possivel dizer hoje, sem estes dados, que os transplantes sao eficientes. O fato de fazer um transplante esta longe de significar a salvaçao da vida. E estes dados simplesmente nao existem, como se nao fossem importantes. 

Em 2012, o Ministerio da Saude anunciou que pagaria R$ 217 milhoes em transplantes. No mesmo periodo, o investimento em UTI foi de R$ 80 milhoes.

O Brasil esta na contra-mao da saude publica. Hoje é muito mais rentavel para um medico ou hospital, liberar um leito de UTI transformando o paciente em doador de orgaos, do que tratar deste paciente, utilizando como argumento, precisar de orgaos para salvar vidas. 

O Ministerio da Saude, se estivesse preocupado com esta situaçao, faria uma entrevista com os familiares de todos os transplantados nos ultimos 5 anos para saber como estao vivendo. Os dados seriam surpreendentes.

6 comentários:

Giselly Alves disse...

Não, eu não vou fazer campanha. Eu concordo planamente com o caus da saúde pública. Mas como vc mesmo disse que gostaria de saber como estão vivendo pacientes transplantados, vou lhe contar... Minha filha Alicia de 3 anos é transplantada de coração há 2 anos e está muito bem, não pelo transplante em si, mas também pelos cuidados que eu como mãe tomo para manter sua saúde. o transplante não é a cura de uma doença, pois vc vive em tratamento pelo resto de sua vida, mas com certeza há uma melhora significativa no quadro geral. Eu sou defensora da doação porque senti na pele a dor de quase perder minha filha. mas vc como ser humano tem todo direito de expressar sua opnião. Boa noite!

Lia/Fpolis disse...

Como pode ser tão desumana a ponto de ficar feliz porque uma criança morreu para salvar a filha? Não tem remorsos não?

Giselly Alves disse...

Em primeiro lugar eu não matei ninguém! A criança morreu atropelada em outro estado e minha filha estava na fila de espera. Eu teria remorso se fosse me deitar todos dias sabendo que minha filha poderia ser salva e eu não deixei que à salvassem! Só sabe quem passa!!!

Paulo Pavesi disse...

Voce conheceu a familia do doador? Como sabe que o doador morreu atropelado? Voce sabia que para as maes que compraram as corneas do meu filho disseram que Paulinho havia morridio em acidente de carro?

Giselly Alves disse...

Eu sinto muito pela sua história Paulo. Eu não sou médica, e não sou Deus, não posso julgar as pessoas pelos seus atos. Sou apenas uma mãe que agradece todos os dias poder ver mais uma vez o sorriso da filha!!!

Paulo Pavesi disse...

Entendi. O que acontece com os outros nao importa. Nao somos ninguem para julgar nao é mesmo? O importante é que sua filha sorri todas as manhas. Ficou claro agora.