Silvana Ribas, repórter do GD
Mãe adotiva de detento morto por espancamento em unidade prisional diz que morte de Valdir Pereira da Rocha, 36, acusado de terrorismo, foi premeditada. Aponta fortes indícios do fato, desde a remoção suspeita, na “calada da noite” do Presídio Federal em Campo Grande (MS), para a Cadeia do Capão Grande, em Várzea Grande na última quinta-feira (13).
A advogada criminalista Zaine El Kadre conseguiu somente ao final da tarde do domingo (16), fazer a liberação do corpo de Valdir, graças a um auto de reconhecimento de cadáver junto à Polícia Civil. Isto porque a documentação dele foi apreendida pela Polícia Federal, quando ele foi preso na Operação Hashtag, desencadeada em 22 de julho deste ano.
Depois de não ser denunciado na operação, a Justiça determinou que ele deveria ser transferido para Mato Grosso, no prazo de 30 dias, após decisão da corregedoria da Justiça Federal em Mato Grosso do Sul, datada de 16 de setembro. Afirma que a transferência estranhamente foi feita pela Polícia Federal após dois feriados prolongados naquele estado (dias 11 e 12 de outubro).
A família não foi informada e só soube da remoção depois que Valdir foi espancado por cerca de 100 homens que dividiam ala com ele, após cadeados das celas serem abertos, no momento em que foi servido o almoço, na sexta-feira (14).
A advogada diz que tão logo o filho chegou a unidade prisional, agentes espalharam entre os presos que ele faria parte de um grupo terrorista que executaria crianças. Fato gerou revolta entre os detentos. Valdir teria pressentido que poderia ser morto. Segundo ela, dois procedimentos de praxe não foram adotados. Um deles de submeter o preso a exame de corpo delito, antes de ingressar na unidade.
Ele também não passou pela assistente social. A própria assistente disse a ela que tentou falar com ele várias vezes mas não conseguiu, pois sempre havia uma alegação de impedimento por outros servidores da unidade.
Depois da família ser informada do espancamento, Zaine disse que foi até o Pronto-Socorro. Diz que o Estado negligenciou o preso que estava sob sua tutela e o abandonou. Não ofereceu Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Em relação ao hospital, diz que tão logo o filho apresentou melhoras, retirou equipamento que controlava os batimentos cardíacos dele. “Meu filho não tinha febre, a pressão estava normal e ele tremia de frio. Quem tem morte cerebral não apresenta estes sinais. Mesmo quando a morte foi diagnosticada eu ainda sentia o coração dele tremer”, acusa a advogada.
Em relação as acusações de terrorismo, ela salienta que Valdir não foi denunciado e sua prisão ocorreu somente pelo fato de ser irmão adotivo de outro acusado, o seu filho Leonid El Kadre de Melo, que se encontra preso no presídio federal de segurança máxima, em Campo Grande.
Provou nos autos que Valdir não tinha qualquer envolvimento, tanto que ele nem chegou a ser denunciado. Só foi mandado para Mato Grosso porque responde por crime ocorrido lá no Tocantins e processo foi transferido para o estado após sua mudança para Vila Bela da Santíssima Trindade.
Salienta que o filho passou a seguir o islamismo por influência do pai, em 2005. Valdir será sepultado em Vila Bela da Santíssima Trindade (521 km a Oeste), local onde moram os filhos e a ex-companheira.
As mesmas desculpas de sempre
Nota da Assessoria - O paciente Valdir Pereira Rocha chegou ao Pronto-Socorro de Várzea Grande inconsciente na tarde de sexta-feira (14) e com trauma encefálico e não tinha como receber qualquer outro alimento, além do soro.
A informação passada pela assessoria de imprensa da unidade, que disse que Valdir recebeu atendimento no box de emergência pela equipe médica plantonista. Foi colocado em leito com aparelhos de respiração mecânica e depois foi avaliado pelo médico neurocirurgião Thiago Albonete.
Desde o momento em que ele deu entrada no Pronto-Socorro existia a suspeita de morte encefálica diante da não constatação de circulação de sangue no cérebro. No entanto, a morte encefálica dele não foi decretada pela equipe médica em nenhum momento, pois para isso existe um protocolo a ser seguido que consiste no aguardo de pelo menos 24 horas, com o paciente em observação e após a realização de dois exames clínicos e um exame complementar, chamado de angiografia cerebral. Este exame seria realizado na manhã de domingo (16), inclusive em outra unidade hospitalar, já que o Pronto-Socorro não dispõem do equipamento necessário.
Porém, na noite de sábado (15), às 19h23, a equipe confirmou que o paciente não apresentava mais sinais vitais (respiração e batimentos cardíacos). A morte então foi atestada e o Instituto Médico Legal (IML) foi acionado para buscar o corpo e realizar a necropsia que vai apontar a causa da morte.
Informa ainda que em nenhum momento da equipe médica do Pronto-Socorro atestou a morte cerebral do paciente. Enquanto ele apresentava sinais vitais permaneceu sob acompanhamento médico e com aparelho de respiração.
A direção do Pronto-Socorro esclarece que não houve retirada de equipamento de acompanhar batimentos cardíacos enquanto o paciente apresentava sinais vitais. Isso só ocorreu após a confirmação do óbito às 19h23.
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