Desembargadores comprados

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sábado, 11 de abril de 2009

Drauzio Varella e Transplantes: mentir para prosperar!

Amanhã estréia no Fantástico da Rede Globo, uma série de reportagens sobre transplantes de órgãos, cujo título é "O dom da vida". O programa já começa com um tremendo equívoco. Transplantes é o dom da morte. Vida para alguns, e morte para muitos. Mas as histórias de sobreviventes são as que chegam aos brasileiros pela imprensa. Os mortos são enterrados e esquecidos, como devem ser. E que sirvam de exemplo.

Falar de tráfico de órgãos e assassinato de doadores, Drauzio Varella não vai. E explico os motivos. O mesmo programa Fantástico falou do caso do meu filho por duas vezes (veja a última reportagem abaixo). As investigações naquele momento, versavam sobre a extorsão da conta do hospital onde me obrigaram a pagar despesas referentes à doação, que segunda a rígida lei dos transplantes, é gratuita. Porém, quando as investigações desnudaram uma rede mafiosa de traficantes de órgãos, envolvendo políticos e médicos renomados, o Fantástico desapareceu. Negou-se a falar do assunto. Fechou as portas e desligou a tv.


O silêncio da emissora se perpetua até hoje, mas o crime cometido continuou acontecendo. No Brasil, segundo médicos e políticos, não existe tráfico de órgãos. É lenda urbana.

Na Itália, onde estou asilado por ter denunciado esta quadrilha, frequentemente se discute publicamente sobre casos de pessoas em coma a mais de 5 ou 10 anos. No Brasil, você já viu este tipo de discussão? Não? E sabe por que? Porque no Brasil, nenhum paciente em UTI pública consegue ficar ligado a equipamentos por mais de 7 dias. Eles são desligados embora a legislação considere isto homicídio. Muitos se tornam doadores, e as autoridades brasileiras sabem disso. E não é só isso. As autoridades são coniventes e fazem o que podem para acobertar estes crimes.

É o caso, por exemplo, dos assassinatos em Taubaté na década de 80. Vários pacientes foram mortos para alimentar uma rede de transplantes particular comandada por Emil Sabbaga. O processo de homicídio de vários doadores durou 20 anos até expirar o prazo para julgamento. Emil Sabbaga era presidente da ABTO (organização que alega que no Brasil não há tráfico de órgãos) exatamente na época em que os crimes foram cometidos e implantava os órgãos provenientes dos assassinatos em pacientes particulares. No processo que não deu em nada, uma das vítimas era uma criança. Um livro sobre o caso de Taubaté foi escrito pelo médico que o denunciou, mas a publicação foi recolhida das livrarias e a editora foi fechada. Veja o vídeo abaixo.

A história se repete. Em 2000, Paulinho Pavesi teve os órgãos retirados mediante anestesia geral enquanto ainda estava vivo. Outro médico descreveu de próprio punho que Paulinho estava sem morte encefálica. Celso Roberto Frasson Scafi é sócio do deputado estadual Carlos Mosconi, mentor desta máfia e que criou uma central clandestina para realizar transplantes naquela cidade. Scafi foi indiciado, mas escapou do processo de homicídio. Seu nome foi substituído pelo nome de outro médico que atendeu na emergência. Alguém que tenha como sócio um deputado federal, não chega aos tribunais. Ao contrário. Scafi foi conduzido a Campinas para integrar a equipe da UNICAMP e continuar a fazendo o que faz.

O crime contra o meu filho está repleto de provas. Os assassinos criaram uma central clandestina de transplantes. Mosconi, que possuia naquela época uma grande amizade com o Ministro da Saúde José Serra, conseguia com que os transplantes fossem pagos sem que houvesse sequer um CNPJ da central. Não havia nem mesmo autorização, conforme pode-se ver na reportagem acima do Fantástico.

A quadrilha criou também uma ONG chamda PRO RIM onde as pessoas que pretendiam receber um rim deveriam ser inscritas. Estas pessoas eram obrigadas a "doar dinheiro" em troca de um transplante fora da fila. O depoimento abaixo não deixa dúvida.


Os crimes cometidos pela quadrilha de Poços de Caldas não limitou-se ao assassinato de doadores. Os hospitais da cidade atuavam sem alvará da vigilância sanitária. Falsificaram provas e documentos com a ajuda de Procuradores Federais, em especial, José Jairo Gomes que hoje ocupa o cargo de Procurador Regional Eleitoral em Minas Gerais. Desviavam dinheiro do SUS e cobravam por internações que nunca fizeram. Segundo o delegado da Polícia Federal Célio Jacinto dos Santos, que investigou o caso, havia até um rodízio de clínicas particulares que recebiam as córneas captadas em Poços de Caldas e as transplantava sem autorização em pacientes particulares. Célio Jacinto dos Santos, mais tarde foi cooptado pela máfia e ignorou todas as investigações, passando a me perseguir.

José Jairo Gomes e mais 8 procuradores federais, uniram-se ao delegado Célio Jacinto e me processaram criminalmente por injúria, calúnia e difamação. Eu os chamei de corruptos, vagabundos e outras coisas mais. A pena, caso fosse condenado, chegava a 60 anos de cadeia. Fui absolvido e a justiça solicitou que minhas acusações fossem investigadas. A juíza que me absolveu citou no processo que achou estranho que nomes como o de Celso Scafi e Sergio Poli Gaspar (o anestesista de cadáveres) tivessem sido excluídos do rol de acusados. Mas nada foi além. A máfia não permite.

Drauzio Varella tem um papel importante no cenário artístico do mundinho médico brasileiro. Ele é o garoto mídia. "Ele é o cara", como diz Obama. Drauzio emprestou seu blog em 2004 para o médico Elias David Neto dizer que a CPI do tráfico de órgãos não era para investigar tráfico de órgãos e sim tráfico de pessoas. Foi neste blog que o Elias David Neto também disse que no Brasil não há tráfico de órgãos. Chegou a citar um relatório do FBI que dizia que no mundo, histórias de tráfico de órgãos são todas iguais e mentirosas. Não trocavam, segundo Elias, sequer os nomes das vítimas.

Eu escrevi para o FBI que me respondeu prontamente. O tal relatório foi produzido em 1992, mas o FBI não sabia do que se tratava. O FBI NUNCA produziu tal relatório. O relatório foi produzido por uma instituição cujo objetivo é desinformar. Nas mãos de Elias, o relatório ganhou peso de FBI. Era mentira. Mas Drauzio assinou em baixo.

Não é estranho se observarmos que Elias David Neto e Luiz Estevam Ianhez foram acusados de desviar órgãos de um hospital público para um hospital particular. A acusação ganhou fóro público quando Elio Gaspari os acusou de privatistas dos transplantes num artigo da Folha de S.Paulo. Mas nada foi investigado. Alguns anos depois, Elias David Neto foi acusado novamente, desta vez, pelo apresentador de televisão Athaide Patrezze por ter lhe oferertado um rim por 50 mil dólares. Elias David Neto novamente não foi investigado. Athaide disse em uma reportagem da TV Band que na fila de espera de Osmar Medina só tem milionários. O estranho não são os milionários. O estranho é que Medina tenha uma fila.


Neide Barriguelli e Athaide Patrezze morreram após a CPI.

Elias David Neto, Luis Estevam Ianhez e Osmar Medina têm várias coisas em comum. São médicos transplantistas, defendem principal acusado do assassinato do meu filho Álvaro Ianhez e pertencem a ABTO. Não como meros membros participantes, mas foram presidente da instituição e a controlam com punhos de ferro.

Luis Estevam Ianhez tem uma particularidade. É irmão de Álvaro que responde pelo homicídio do meu filho. O médico Álvaro Ianhez tem uma proteção especial. Mesmo respondendo por homicídio, o SUS o contratou para atuar na área de transplantes em Manaus. Ianhez fechou seu escritório em Poços de Caldas e atuou em naquela cidade durante algum tempo. Até que notícias de tráfico de órgãos de indígenas Manauras começaram a aparecer pela mídia. Ianhez saiu de Manaus e novamente foi agraciado pelo SUS a transplantar desta vez em São Paulo, e está planejando junto com o deputado Mosconi montar uma nova central em Poços de Caldas.

O processo de homicídio do meu filho está para acabar. Depois de 7 anos de recursos para retardar o processo, o processo está acabando. Enquanto eu estava pedindo asilo político na Itália por estar sendo perseguido por autoridades brasileiras, Mosconi conseguiu fazer com que o processo deixasse a esfera federal e fosse remetido para Poços de Caldas, justiça comum, onde ele domina todas as esferas. Eu fui impedido de ser testemunha de acusação e o processo só possui testemunhas de defesa. É verdadeiramente um processo num estado de direito democrático. Outros 3 processos sobre o assassinato de outros 8 doadores também tomaram o mesmo caminho. Todos foram levados para o campo onde Mosconi domina.

Vale lembrar que o Conselho Federal de Medicina, sem me ouvir também absolveu os envolvidos no caso do meu filho de todas acusações. Não só no âmbito médico, mas absolvendo também do estelionato, da falsificação de documentos, da criação ilegal de uma central clandestina e coisas do gênero. Este CFM é tudo de bom. O vídeo abaixo mostra como médicos estão preocupados com transplantes.

Desde o começo, Mosconi afirma que os médicos serão inocentados e que a verdade virá à tona. Como dizem aqui na Itália, não é pela justiça que o Brasil é conhecido aqui fora. Mas pelas dançarinas. E isto sim é verdade.

Traficantes de órgãos nunca são investigados pois fazem parte de um grupo seleto de médicos e políticos intocáveis. Jamais sentarão em um banco dos réus. E os depoimentos abaixo extraídos da CPI em 2004 dizem tudo o que eu gostaria de dizer neste momento.


Se você está achando pesado, preciso lembrá-lo que não é só doadores que este grupo matou. Carlos Henrique Marcondes, administrador do hospital onde meu filho foi assassinado, instalou escutas telefônicas no centro cirúrgico e precisou ser suicidado. Na foto abaixo é possível vê-lo com as mãos raspadas com ácido para que não fosse possível afirmar com precisão que ele teria disparado 3 tiros contra si mesmo. Este caso também foi abafado e o Ministério Público Federal não quer investigá-lo por nada neste mundo.

Este é o trabalho que Drauzio Varella tem pela frente. Dizer que o transplante salva vidas, que tráfico de órgãos não existe e que não devemos acreditar em tudo o que lemos na internet. Devemos acreditar no Fantástico e no Blog de Varella. Devemos acreditar que em um país onde a corrupção faz parte da cultura, o sistema de transplantes vive imune a qualquer safadeza. Devemos acreditar que a verdade sobre transplantes é esta que Varella transformará - quem sabe - em um novo sucesso como o Carandirú.

A única certeza que eu tenho é que você não ouvirá e nem verá nada do que eu te contei agora no Fantástico ou numa série de Varella.

É uma história bastante triste e que o público brasileiro não deve e não pode saber. Os transplantes não podem parar. Não por aqueles que estão na fila, pois estes pouco importam para os traficantes. Mas o dinheiro que movimenta este mercado, sem doadores, seria reduzido e muito. E reduzir dinheiro de traficante durante esta crise econômica não é legal.

Agora, que venham os processos. Seria ótimo discutir minhas denúncias num tribunal italiano, com direito a observadores da ONU. Vamos lá!!!

Vocês são todos - médicos, procuradores e autoridades em geral - um bando de canalhas.

2 comentários:

andre disse...

caro Paulo, sinto muito pela sua dor, sou pai de duas filhas e sei do que somos capazes pelos nossos filhos, infelizmente no Brasil, impera o poder do mais rico e influente. Espero que a justiça seja feita, mas precisamos, nos unir e fazer com que a sociedade escute a voz de um pai, e familiares que perderam seus ente queridos, para uma quadrilha de assassinos que ainda imperam pela nossa região como se nada tivesse acontecido, espero que um dia, essa midia hipócrita e a falta de cultura que temos no Brasil, acabe e dê lugar ao verdadeiro valor que o ser humano merece, e que no seu caso, como no de muitos, a justiça seja feita. Procurarei fazer a miha parte, divulgando e comparilhando com o maior numero de pessoas possiveis. um forte abraço.

Ernane Oliveira disse...

É triste vermos que a ganância de alguns milhares seres humanos suplanta/enterra a perspectiva de vida de outros que no instante da tragédia encontram-se desprovidos de defesa de voz e de vez. Paulo não tinha ciência da sua história e gostaria de poder ajudar de alguma forma.