Desembargadores comprados

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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Você ainda quer ser doador de órgãos?

A família do doador é a que mais perde em todo o processo de transplantes. Primeiro porque obviamente enfrenta a morte de um ente querido, geralmente trágica e inesperada. Em seguida, começam as pressões para que a doação aconteça. Não respeitam o momento mais díficil desta família que não tem condições psicológicas para decidir nada, mas são induzidas a dar tudo o que tem no momento em que sentem que não têm mais nada. 

As propagandas transplantistas também não poupam argumentos. O desenho abaixo, que foi publicado no site da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), insinua que aquele que não doa os órgãos deve morrer num abismo.

Depois de doarem os órgãos, os familiares são esquecidos e afastados. Segundo o programa Fantástico, sobre transplantes, a editora e roteirista de Drauzio Varella revela  que: 
"Os médicos que trabalham com transplantes no Brasil procuram evitar que o doador e o receptor se encontrem porque, na opinião deles, isso pode ter consequencias imprevisíveis: tanto a família do doador pode procurar no receptor traços da personalidade do seu parente querido - e, claro, não vai encontrar - quanto, num outro extremo pode até cobrar alguma recompensa financeira.

No caso da Central de Transplantes do Estado de São Paulo, que documentamos neste próximo episódio da série, os médicos são terminantemente contra qualquer contato do receptor com o doador."

Esta é a imagem que os médicos têm do doador. Um aproveitador insensível que quer ganhar dinheiro com a sua perda.

Irônico. Os médicos que exploram doadores emocionalmente e receptores financeiramente temem que os doadores queiram recompensas em dinheiro por terem doado os órgãos. O gesto de amor, que tanto usam em propagandas de transplantes, resumi-se a evitar que o doador cobre o receptor. Nesta "cadeia" só um pode levar vantagem: o médico.

A verdade é que o encontro entre doador e receptor pode revelar negócios inconfessáveis. Eu não conheci os receptores do meu filho e nem desejo. Mas li o depoimento das mães que compraram as córneas por R$ 500,00 e R$ 600,00 reais respectivamente. Foi uma córnea para cada criança. Todas fora da fila. Se os médicos me dissessem que este era o preço, eu pagaria o dobro para que deixassem meu filho vivo. Poderiam levar o que quisessem.

Uma das mães disse que foi informada que a córnea que comprou era de uma menina morta em um acidente de carro em São Paulo. Na verdade a córnea era do meu filho, assassinado em um hospital em Minas Gerais por médicos transplantistas. Este me parece o melhor motivo para evitar que doador e receptor se encontrem. O hospital que vendeu as córneas foi o Instituto Penido Burnier em Campinas. O hospital foi acusado na justiça pelo Ministério Público de improbidade financeira, uma vez que não emitiu nota fiscal. Foi absolvido. 

Não é piada. É sério. Está nos autos. A venda de córneas, de uma criança assassinada, em um hospital sem credenciamento ou autorização legal para realizar transplantes, sem nota fiscal, não é crime porque o Instituto Penido Burnier é filantrópico!

O Ministério Público faz parte desta cadeia. É ele quem desqualifica as acusações e as apresenta à justiça de uma forma que ninguém seja punido. Por isso estou asilado na Itália. Eu denunciei o que não podia ser denunciado. Muito dinheiro em jogo. Muita gente envolvida. Autoridades enriquecendo com as propinas de traficantes de órgãos.

Este é o amor que existe na doação de órgãos. Você dá tudo na hora em que não tem nada, e depois não terá o direito a conhecer quem está com os órgãos, pois você não é confiável. Pode querer ganhar dinheiro. Cobrar o receptor. Depois de tudo isso, nenhum apoio psicológico lhe será oferecido. Terá que enfrentar a perda sozinho. Vocês serão esquecidos e serão evitados. Não serão bem vindos. 

Vale a pena doar?

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