Desembargadores comprados

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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Itália - 1 de abril

Exatamente há um ano atrás eu desembarcava em Roma, buscando ajuda e apoio para requerer asilo político. Perseguido no Brasil por ter denunciado uma máfia de políticos e médicos renomados - todos traficantes de órgãos, a saída foi deixar o país. A Itália, berço da minha família, foi a opção que tinha para começar uma nova vida. Aqui fiz vários contatos que me deram apoio para que pudesse fazer o pedido. Após 8 dias caminhando por Roma, voltei ao Brasil, arrumei as malas e vim definitivamente em 12 de junho do mesmo ano.
A experiência de sair do Brasil e perceber que no mundo ainda existem pessoas preocupadas com a vida humana, é uma sensação indescritível. No Brasil, isso não existe mais. A vida humana perdeu o valor. Vale uma estrelinha no peito. Vale uma propina. Vale um terrorista de terno que se diz Ministro de alguma coisa.
A eutanasia e o aborto são discutidos pela imprensa e mobilizam tribunais. No Brasil, a eutanasia e aborto são fatos corriqueiros. Acontecem todos os dias, aos milhares. E os tribunais nem ficam sabendo, e mesmo se soubessem, não fariam nada. O que movimenta milhões não se põe a mão no Brasil. 
Há pouco tempo criou-se tremenda polêmica em torno do caso de Eluana, em coma há vários anos, cuja família desejava desligar os aparelhos. Se fosse no Brasil, a manchete do jornal seria: Eluana doa os órgãos e salva 7 pessoas. Eluana estava em coma há 17 anos. No Brasil não existe ninguém em coma há mais de 1 mês numa UTI pública. Vira doador e herói.
Só aqui fora é que se pode avaliar o que significa o Brasil. Só aqui fora se pode entender o real significado da palavra cidadania. A cidadania não é pegar um ônibus equipado com cadeira de dentista e obturar alguns dentes da população carente, uma vez por ano. Cidadania não é dar registro civil para aqueles que não podem pagar. Nem é votar ou doar órgãos. A cidadania não é ajudar velhinhos a atravessar a rua. A cidadania não se divide em classes como é no Brasil. Cidadania é algo muito maior e é a representação viva de um povo. 
Um cidadão - seja de qualquer classe social - tem o direito de ver os impostos sendo aplicados em benefícios do país. Saber que cada centavo pago ao governo está sendo usado com muita preocupação e respeito pois é fruto de muito trabalho. O trabalho, num país civilizado como a Itália, não é apenas um meio para ganhar a vida. É um ofício, é um templo sagrado, é algo respeitoso. E dele que se constrói um país. 
Ser respeitado é um convite para respeitar ao próximo. Coisa que não existe mais no Brasil, onde ninguém respeita ninguém. Onde alguns acreditam que são melhores que os outros. Onde quem tem uma vaga no governo gasta o dinheiro como e onde quer porque não precisa prestar contas.
Aqui sou respeitado. Ouviram minhas denúncias, me acolheram e reconheceram os abusos do estado brasileiro. Quando cheguei, ninguém aqui acreditava que o governo aceitaria o meu pedido pois o Brasil é um país democrático. Acusei o presidente da república de proteger assassinos e muitos não acreditaram. Alguns meses depois que o meu asilo foi concedido, repercurtiu o caso Cesare Battisti e aqueles que duvidaram no começo, hoje me abraçam. 
Aqui fiz amigos que em 40 anos de Brasil não consegui fazer. 
Estou feliz. Itália é o meu país.

Um comentário:

Michel disse...

O importante é estar bem consigo mesmo e por isso fico sempre muito feliz com a decisão, mas a cada nova escrita a amargura é remoída, talvez numa catarse do vivido que impresso já na alma, não se apaga, nem se consola. Avanti amigo, se num ano foi suficiente pra tanta percepção e experimentação, liberte os 40 passados. Não há salvação pra quem não interpreta a vida, pra quem não entende o óbvio, nem pra quem se esconde na escrita burra oriunda da leitura deturpada, mesmo quando sabida e reprovada.
Por mais que você exemplifique, toda nova é sempre velha: sentimento só se reconhece pela dor na pele. Falar em cidadania já me causa ânsia pois, se nem os ditos esclarecidos sabem ler, o que esperar dos mesmos que por direito escrevem tal qual lêem, para informação dos imberbes? E assim funciona para todas as demais espécies brasileiras. Salvo exceções, que de tão excepcionais e raras, esmoreceram no panorama, tal qual gás rarefeito no universo do oxigênio. Juntar molécula por molécula é tratar a exceção como regra, e isso tá brega e não tem mais pega. Já era. De fato nunca foi nem o será. Utopia é tudo, é querer ver o surdo ouvir o urro do cego mudo!
Logo é inverter os pólos, dar exceção à regra, catalogando e afastando os merdas, tal qual reza a vasta terra, onde desde sempre à regra foi e ainda é a regra.
Os ordinários são o erário, e nada otários diferenciam os extra e policiam os dados. É... aqui ordinário é insulto, erário é errado, e pra encerrar ficaria: polícia nem tem dardo.
Não dá pra comparar, mas jocosamente eu ouso em tergiversar, pois tal qual o burro do exemplo, continuo imóvel e alvo, escrevendo e divulgando tudo aquilo que finjo um dia concretizar.
Amplexos e Avanti!

Michel