Desembargadores comprados

Desembargadores comprados

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Você não acredita em pesquisas? Mas elas funcionam até mesmo nos transplantes.

O ser humano é um ser imbecíl por natureza. Em alguns países como o Brasil isto é ainda mais verdadeiro. 

O vizinho compra um carro novo, para pagar em longas prestações, mesmo não tendo condições financeiras para isto, mas o faz por uma questão de status. Pela manhã, quando você está pronto para ir ao trabalho, se depara com aquela incrível máquina e se pergunta: Como ele conseguiu?

O vizinho faz pose de estar rico, e você acredita. Se o seu vizinho está ficando rico, você precisa descobrir o que fazer para ficar rico também. Naquele dia, ao chegar no trabalho, você começa a avaliar que seu salário está muito baixo, e que você precisa - quem sabe - procurar um emprego melhor. Você se dedica e parece estar patinando. Já o seu vizinho, parece que está conseguindo subir na vida muito mais fácil.  O que ele faz, que você não é capaz de fazer?

Tudo ilusão. Há uma frase em Minas Gerais que diz: Você vê as pingas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo. Exato! A imagem do carro do seu vizinho, o leva a ter uma percepção bastante equivocada da situação econômica dele. E isto faz você pensar em mudar sua vida. 

As pesquisas produzem este efeito! Se Aécio cresceu é porque as pessoas estão mudando o voto para ele. Será que eu deveria mudar o meu também? Mas as pesquisas representam a verdade? Sinceramente? Onde há dinheiro envolvido, não há seriedade. Pesquisas são encomendadas. Eu compro uma pesquisa que vai entrevistar pessoas do meu reduto, e obviamente terei um resultado satisfatório. Depois é so exibir esta pesquisa como sendo retrato de uma realidade, como o vizinho exibiu o carro novo, para fazer com que todos acreditem que a situação é outra. 

Recentemente, o mesmo método foi utilizado pelos transplantistas. Eles encomendaram uma pesquisa para saber o perfil do doador de órgãos brasileiros. E advinhem o resultado?

O resultado apresentado apontava que pessoas mais instruídas eram doadores de órgãos. Em outras palavras, os ignorantes se negavam a doar órgãos. Subliminarmente, estavam dizendo que só pessoas inteligentes, cultas e instruídas aceitavam a doar órgaos pois tinham o conhecimento, e os ignorantes, incultos não doariam órgãos, por serem desinformados. 

Para derrubar esta pesquisa, não é necessário muito esforço. No Brasil temos a idéia de que artistas da música, das novelas e dos teatros são extremamente cultos, e não há qualquer notícia de que artistas que morreram jovens, como por exemplo, Romulo Arantes, tenha doado seus órgãos. Dizem que a classe médica é nobre e culta, mas 98% dos médicos se declararam NÃO DOADORES. 

Não é preciso ir muito longe. O intelectual escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro foi autor da frase abaixo, ilustrada com um desenho que chama os não doadores de egoísta. Na imagem, os ignorantes não doadores, representados por uma caminhão, esta prestes a cair em um abísmo. Ou seja, se você não doar, desejamos que você morra. 


O intelectual morreu em julho deste ano, e para a minha surpresa, não doou nada. Isto prova que sua frase era apenas uma pressão para que os ignorantes doassem seus órgãos. João Ubaldo Ribeiro era velho Pavesi!!! Como poderia doar alguma coisa??? Ora meu caro, ele poderia doar córneas, pele, ossos, e até mesmo órgãos já que morreu de embolia pulmonar. Existem muitas doações em piores condições. Até fígados considerados impróprios ou marginais, estão sendo aproveitados, com o aval da justiça brasileira. 

Danilo Gentili declarou-se doador de órgãos e implorou para que todos usassem a Hashtag #prometodoar, para publicar um vídeo no tweeter estimulando a doação. Se ele morresse hoje, será que seria mesmo um doador?

Então seu ignorante, a qual grupo você pertence?

Hummm... se você se negar a doar, pertencerá ao grupo dos ignorantes. Você não quer ser visto assim não é mesmo? Então você precisa doar órgãos! Você vai contrariar o que dizia João Ubaldo Ribeiro e tantos outros artistas?

Podemos observar que é justamente o contrário. Quanto mais informados sobre o funcionamento do sistema de transplante e como funciona a lista de espera, maior a chance de ser contra a doação. 

Atualmente, se você for visitar uma universidade, e perguntar aos jovens estudantes se eles são doadores de órgãos, posso apostar que mais de 90% dirão que sim. No ambiente acadêmico, onde a cultura transborda (ehehehehe), ser doador é ser inteligente. É ser moderno. Ser ousado. Ser cult. Nestas mesmas universidades, o tema tráfico de órgãos é tratado como uma lenda urbana. Um assunto proibído. 

Se você perguntar a estes mesmos jovens estudantes, o que sabem sobre transplantes, posso apostar que mais de 90% não fazem idéia de como funciona o sistema. 

3 comentários:

Anônimo disse...

Quer doar, então doe. Quer ser trouxa, então seja. Quer usar drogas, então use. Livre arbítrio meu irmão.

Jose Marques disse...

Amigo Pavesi,
eu tenho muita vontade de ser doador, mas não sou. Sabe pq? Pq moro no Brasil, o país onde tudo tem corrupção!

Paulo Pavesi disse...

Caro José Marques. Todo brasileiro é um doador compulsório, querendo ou não. Não pense que está livre. Há muitos casos de pessoas cujos órgãos são removidos sem qualquer autorização da família. Aliás, a família nem fica sabendo. Tudo funciona a luz do dia.