Jovem de 22 anos, Ronald voltava para casa após voltar do banco onde teria ido pagar uma conta. Ao estacionar sua moto em frente a garagem para abrir o portão, foi abordado por dois marginais. Assustado, Ronald correu e foi baleado duas vezes.
Neste momento, fica evidente a falha do Estado na segurança pública. Cada dia é mais comum situações como esta onde pessoas são vítimas da negligência do Estado. Quem paga a conta é um jovem de 22 anos.
Socorridos por vizinhos, Ronald é levado para o hospital Albert Schweitzer, onde, segundo a reportagem, foi estabilizado para poder ser transferido.
Mas a história é um pouco diferente. Vejamos o que diz a família:
"Meu filho perdeu muito sangue aqui, perdeu sangue no caminho e não repuseram o sangue e ainda me deram cargo ainda que eu teria que fazer a transferência do meu filho. Quer dizer, você precisa de um pronto-atendimento, precisa de um neuro, o hospital tem que ter um neuro, e você fica impotente diante de uma situação dessa", desabafou o pai do jovem.
Pois é. Eis a segunda omissão do Estado. Ao se dirigir a uma emergência de qualquer hospital, imaginamos que teremos o melhor atendimento e a mínima estrutura disponível, de acordo com a quantidade de impostos que pagamos. Mas não funciona assim. Dependendo da emergência, é preciso transferir o paciente para um hospital especializado. Ronald não recebeu o sangue que precisava (não tinham doadores?) e a própria família ficou encarregada de transferir o rapaz. Num momento de desespero, com todo o sofrimento e a angústia de ver alguém tão próximo a beira da morte, ainda tiveram que se ocupar da transferência. Não havia um neurologista, não havia estrutura, não havia nada que pudesse salvar Ronald.
A situação é tão vergonhosa que, caso seja assaltado, é melhor estar na região certa para a emergência indicada. Ser baleado em uma região onde os hospitais tratam somente diarréia, pode significar o fim.
Após a transferência, Ronald é diagnosticado com morte cerebral (segundo a reportagem) e não morte encefálica como prevê o protocolo. Mas pode ser um erro jornalístico já que a ignorância neste meio não tem fim.
Veja a chamada para a matéria:
Jovem tem morte cerebral após ser baleado na porta de casa no Rio
Ronald R. Teixeira levou dois tiros numa tentativa de assalto em Realengo. Família informou que deseja doar os órgãos do rapaz: 'forma de amenizar dor'.
Muito bem! A imprensa não destaca o absurdo que é a morte de um rapaz nas mãos de marginais. Mas destaca que ele vai ser doador! Eu já passei por isso e entendo exatamente a vontade do pai. Ajudar aos outros, e fazer com que alguém, viva melhor.
E para finalizar a história, diz o pai:
"Isso [a doação] foi uma forma bem legal da gente amenizar um pouco a dor. Forma do Ronald continuar aí. Ele merece", declarou emocionado Robson Dias de Silva, o pai do jovem.
Mas a omissão ainda não terminou. O Estado que não garantiu a segurança e nem o atendimento de emergência, não vai conseguir prender os assassinos e julgá-los como determina a lei. Nós não temos estruturas para isso. Menos de 10% dos crimes violentos no Brasil são solucionados. Menos de 5% são punidos exemplarmente. Quem fez isto com o Ronald, já fez com várias outras vítimas.
Caro Sr. Robson,
Eu escrevo como pai, na mesma situação que a sua. Também doei os órgãos do meu filho assassinado. E por isso mesmo, faço algumas observações.
Não, o Ronald não merece. Ele merecia sim um atendimento de emergência digno que lhe desse a mínima chance de lutar pela vida. Ele merecia sim, uma segurança pública de qualidade que lhe permitisse estacionar a moto com segurança na porta de casa sem ser alvo de bandidos.
Não, Sr. Robson, o Ronald não vai continuar ai. Para salvar aquele que vai receber os órgãos do seu filho, o Estado fará o impossível. Fornecerá todos os recursos necessários para o transplante dar certo, recursos que não estavam disponíveis para o seu filho. Ronald vai continuar apenas na sua lembrança. Um rim, um fígado, uma córnea de Ronald em outra pessoa não significa - nem de longe - que Ronald continuará vivo. Vocês sequer saberão quem recebeu os órgãos.
Enquanto pessoas como eu e o Sr. continuarmos a doar órgãos, não teremos uma emergência digna, uma segurança pública adequada ou qualquer dignidade de cidadão.
Ronald não é um herói. Ele é vítima de um Estado omisso.
Ronald, assim como meu filho, estão mortos junto com seus sonhos, seus planos e projetos, e sem futuro algum. Não teremos netos, não teremos natais, não teremos pascoa, não teremos nada. Teremos fotos e memórias que se apagam com o tempo.
Antes um cidadão comum vivo, do que um herói morto.
3 comentários:
Não restam dúvidas de que vivemos num país de bandidos. Falta o básico para o cidadão comum, mas sempre há um orçamento generoso para os covardes e coniventes da criminalidade que integram o satânico Poder Judiciário brasileiro, tirem suas conclusões abaixo:
ZERO HORA 01 de junho de 2015 | N° 18180
POLÍTICA + | Juliano Rodrigues
O CÉU É O LIMITE PARA O NOVO ESTATUTO DOS MAGISTRADOS
À revelia da crise financeira que causa desemprego e corrói os salários dos trabalhadores no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) prepara uma nova versão da Lei Orgânica da Magistratura. Na esteira de adaptações importantes a uma legislação que é antiga (foi criada em 1979) e foi sucedida pela Constituição de 1988, o presidente do Supremo e responsável pelo anteprojeto, Ricardo Lewandowski, incluiu um pacote de benefícios de dar inveja a qualquer outra categoria profissional.
Se prosperar a proposta de Lewandowski, os magistrados terão auxílios para: alimentação, creche, educação (para filhos entre 6 e 24 anos), plano de saúde, extra de até 20% do subsídio para pós-graduação, até três subsídios como auxílio-mudança, pagamento de auxílio-transporte na falta de carro oficial e pagamento extra para participar de bancas de concursos. Tem mais: o Congresso não teria mais a prerrogativa de analisar reajustes salariais dos magistrados, tudo ficaria a cargo do Supremo.
E ainda: juízes estariam impedidos, mesmo se fossem presos em flagrante, de ser conduzidos por autoridade policial a uma delegacia.
Em fevereiro, ao anunciar aos magistrados que entregaria, ainda em 2015, o projeto concluído, Lewandowski deu a entender que os atuais salários e benefícios dos juízes ainda não são suficientes.
– Pensamos que é chegada a hora de rediscutirmos a base da magistratura de maneira a colocar os nossos juízes em um patamar profissional e institucional compatível com os inestimáveis serviços que prestam ao país – discursou, no evento de abertura do ano judiciário.
As propostas do presidente do Supremo dão superpoderes aos juízes e concedem inúmeras facilidades à vida dos magistrados e de suas famílias. Filho de juiz, por exemplo, terá uma ajuda extra para estudar, já que o pai receberá auxílio para esse fim.
Se o projeto for aprovado no Congresso, será criado um abismo entre a magistratura e as demais carreiras públicas. E o dinheiro para bancar os benefícios atuais e os pretendidos pelo Judiciário vem de um só lugar: o bolso dos contribuintes.
ALIÁS
Um dos benefícios mais discutíveis dos magistrados, as férias de 60 dias por ano, segue intacto no anteprojeto elaborado pelo presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Muito triste ... O Estado não se move para salvar a vida do rapaz, mas é muito rápido e eficiente para retirar os órgãos. ....
Precisamos de muita luta para acabar com o crime organizado na saúde. Um crime que só ganha mais e mais campo de atuação.
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