O site da revista Veja, tem dado oportunidade para um medico que aproveitou a tragedia de Santa Maria para - ao meu ver - se auto promover. Vou reproduzir o texto aqui e comentar o que penso. Se ele pode escrever o que deseja, por que nao eu?
O nome do medico é Milton Pires. Nao o conheço, nao sei quem é e isto pouco me importa. O que importa para mim é dar um resposta a este texto.
Segue o texto. Meus comentarios estao em laranja.
Permitam-me os colegas fazer uso no presente artigo dos dois discursos que mais encantam o “meio intelectual brasileiro” – o marxista e o psicanalítico. Esqueçam, por alguns instantes, aquilo que ambos dizem do mérito e da caridade humanos. Espero que minhas conclusões não os choquem e sugiro ainda que, em caso de indignação, adotem como saída elegante afirmar que não gosto de ser médico; passa a impressão de profissionalismo e pena profundos de alguém como eu….rss
Logo no inicio, o medico deixa claro o que vem pela frente. Ele cita politica! Misturar saude e politica é um erro fatal que pode ser visto diariamente nos hospitais e pronto socorros brasileiros. Vejo politicos distribuindo ambulancias para cidades como se fossem conquistas pessoais, e isto deveria ser obrigaçao do estado com base em numero de pacientes. Este exemplo mostra como as ambulancias servem de "cheque votos" em todo o territorio nacional. E nunca vi um medico reclamar disso!!
Tenho visto profissionais, às vezes de sessenta ou setenta anos, fazendo plantão nas emergências do Sistema Único de Saúde (SUS).
Tenho visto pedreiros, jornalistas, ambulantes, e todos os tipos de trabalhadores trabalhando aos sessenta e aos setenta sem qualquer problema. Alias, muitos, com orgulho de poderem estar sendo uteis de alguma forma, ainda que nao ganhem algumas centenas de reais por 30 minutos trabalho (como ganham os medicos diante das consultas porcas que se prestam a fazer)
Comem mal, não dormem (ou o fazem em quartos imundos), são ameaçados ou agredidos pelos próprios pacientes, alguns roubam medicações controladas para uso próprio, e muitos acabam como notícia no Jornal Nacional.
Sem comentarios. O medico é o unico profissional que dorme durante o periodo que deveria estar trabalhando. Foram muitas as vezes que procurei um pronto socorro de madrugada e fui atendido por um medico bocejando, mal humorado que me receitava qualquer coisa para que eu fosse embora e o deixasse dormir. Como analista de sistemas, ja virei a noite trabalhando muitas vezes e nunca pude tirar uma soneca. Nao sei por que este ser acredita que tem mais direitos que outros trabalhadores.
Seu instrumento de trabalho mais importante é um carimbo e seu chefe é uma enfermeira. Eles assistem pacientes morrerem por falta de medicamentos, leitos, cirurgias e métodos diagnósticos. Dia após dia, independentemente de posição política ou tempo de formatura, são representantes legítimos de um delírio cujo início remonta a década de setenta.
Assistem pacientes morrerem por falta de medicamentos, leitos e nao faz nada?? Nao denuncia? Nao reclama? Nao vai a imprensa? Por que? Por que so agora este ser esta se manifestando? Isto acontece ha decadas!!!
Naquela época, um médico brasileiro, ex-assessor para saúde na Nicarágua, e que depois viria se eleger deputado por um partido comunista, pensou ser possível trazer à terra aquilo que nem Jesus Cristo imaginou: um sistema de saúde com livre demanda, cobertura completa de custos, e acesso imediato aos serviços. Sim, meus amigos, o Brasil deve ao Dr. Sérgio Arouca e aos seus “companheiros” o fato de homens maravilhosos como Fernandinho Beira-Mar e Marcola terem o mesmo direito a um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que qualquer trabalhador.
Odeio a esquerda e mais uma vez o medico relaciona atendimento a pacientes com a politica. O medico esta propondo a recusa de tratamentos a bandidos. Otimo!! Vamos economizar ainda mais. Por que prende-los se eles nao sao uteis para a sociedade? Por que nao executamos todos os bandidos, traficantes, assassinos e tambem os politicos que roubam o dinheiro da saude e principalmente os medicos que faltam aos plantoes do SUS, e recebem os salarios sem prejuizo algum, como se tivessem trabalhado? Recentemente tivemos o caso - ja esquecido - da garotinha Adrielly, que esperou por 8 horas o plantonista que faltou sem avisar ninguem. Sabe quem pagou o salario deste plantonista? Provavelmente foi o pai de Adrielly atraves dos impostos que paga.
Certamente, se vivo, o Dr. Arouca ficaria exultante ao ver como nossas UTIs são numerosas e estão bem equipadas e eu gostaria de saber como ele explicaria o fato de Lula não tratar seu câncer no SUS.
Lula é ignorante, mas nao é burro. Qualquer um sabe o que é ser atendido pelo SUS.
Uma década antes, no governo Castelo Branco, o Brasil assistia ao início de uma proliferação de faculdades que nos lembra que nem só de futebol somos campeões. Daqueles bancos saíram médicos, e continuam saindo, que vêem no futuro a possibilidade de uma prática liberal que a muito deixou de existir.
Pratica liberal? O que quer dizer com isso? Abrir um consultorio proprio e ficar milionario explorando pacientes particulares? Estou começando a entender o que pretende o doutor!
A verdade é que nos tornamos empregados! O estereótipo do médico recém-formado que vai para o interior casar com a filha de um latifundiário e depois disputar algum cargo municipal é cada vez mais difícil de ser encontrado.
Hummm! Bingo! "Nos tornamos empregados!". E qual o problema em ser empregado doutor?? Ter de viver com um salario fixo é problema para um medico? Qual seria o mundo ideal? Um belo consultorio atendendo so quem tem dinheiro e pagando pelo preço que VOCE acha justo?
Ao que nos parece, em 1964 os militares viram na classe médica uma ameaça política e trataram de tomar providências. A primeira delas, em silêncio garantido pelas paredes da Escola Superior de Guerra, foi determinar que saúde era uma questão de segurança nacional. A segunda, bem mais simples, foi submeter os médicos a mais elementar lei de mercado: oferta e procura.
Caro doutor. Os militares perceberam o corporativismo existente na classe e temeram sim pelo que poderia acontecer.
E o que houve daí em diante? Tornamo-nos muitos, empobrecemos, nos sindicalizamos, e acima de tudo passamos a crer, como bons marxistas, que tínhamos um poder de transformação social até então adormecido. Era preciso ser um “trabalhador da saúde”. Médicos ligados à saúde pública começaram a despontar na cena política, mas desta vez ligados aquilo que se chamava na época de “esquerda”.
Politica novamente? Quando o senhor vai entender que saude nao pode estar atrelada a politica?
O país assistia então ao nascimento do Partido dos Trabalhadores e quem não lutava por eleições diretas não tinha coração. Enquanto isso, em silêncio mas de forma contínua, o sistema que fazia diferença entre aqueles que trabalhavam e contribuíam ou não para os gastos com a saúde nacional extinguia-se aos poucos.
Atender a todos nao é justo nao é mesmo? Para isto usou o exemplo Fernandinho Beira-mar. Como se aqueles que nao pudessem pagar para ter atendimento medico fossem todos bandidos.
Alheios a tudo, os antigos mestres das Escolas de Medicina, consagrados pelo tempo e saber, continuavam ensinando que o importante era a relação médico-paciente, que a medicina não podia se desumanizar e conseguiram com isso contribuir para a visão maniqueísta que passou a nos dividir entre “técnicos-frios” ou preocupados “com o paciente como um todo”.
Pelo visto, os medicos nao aprenderam nada.
"Pobre do país cujos médicos estão doentes! Era neles que se depositava a esperança de alívio de um povo que agora percebe que ele, povo, cuidou muito mal dos seus próprios médicos". Orientaram nossos acadêmicos a fazer estágio nos Estados Unidos. Para lá partiram aos comboios, quase sempre financiados pelos pais, lembrando os adolescentes brasileiros que visitam a Disneylandia.
Os medicos brasileiros sempre foram doentes. Corporativistas. Nunca se preocuparam com o bem comum. Sempre tiveram como meta o enriquecimento. Nao é dificil ver jovens entrando para a faculdade de medicina com a finalidade de ter um futuro financeiro brilhante.
Mas a mim me parece que o sonho está acabando. Voltamos de lá e estamos de plantão. O que poderia ter saído errado? Nossos pacientes já não nos respeitam e querem apenas atendimento de graça. Não nos esqueçamos dos famosos exames – quem não os pede não pode ser bom médico!
Quem nao pede exames, clinica com palpites. E nos cemiterios existem milhares enterrados graças a opinioes seguras de seus medicos. Os exames foram criados para que um paciente pudesse ser diagnosticado com segurança. Sem exames, tudo pode ser uma virose curada com paracetamol. Basta ir a um hospital publico para receber este diagnostico.
Será generalizada entre os colegas esta minha sensação? Medicação antidepressiva, menos trabalho e um salário melhor não resolveriam meu caso? Estas respostas ficam por conta de quem até aqui gastou seu tempo a me ler.
Muito bem. Agora esta tudo claro: "menos trabalho e um salario melhor". Isto nao deixa duvidas. O texto sera melhor compreendido daqui por diante.
Uma vez Freud escreveu que a capacidade do indivíduo ser feliz está relacionada à realização no amor e no trabalho. Da vida pessoal de meus colegas pouco sei, mas tenho visto em pequenas salas (chamadas pelos otimistas de estar médico), em que se toma cafezinho frio, uma verdadeira legião de gente triste.
Este nobres medicos humilhados com cafe frio, ja pensaram em trocar de profissao? Voces nunca foram obrigados a ter esta profissao! Voce podem trocar a qualquer momento!!
Isso mesmo, meus colegas, tristes é como estamos em função do que fazemos para sustentar nossas famílias. Aos dezoito anos de idade, com todas as alegrias desta época da vida, estávamos, muitos de nós, em frente a cadáveres. Quantas noites sem dormir por causa dos exames da faculdade? E o que dizer então da disputa por uma vaga na residência?
Estou chorando! Apenas 18 anos e olhando para cadaveres! Que tristeza... O senhor deveria procurar algum apoio nos direitos humanos. Onde ja se viu, um jovem de 18 anos olhando cadaveres enquanto todos os outros da mesma idade estudavam robotica, programaçao, finanças, arquitetura, engenharia, etc... Por que justamente o senhor foi obrigado a viver isso??? Isto daria um filme. Alias, certa vez chegou a minha caixa de emails, fotos de estudantes de medicina brincando com o cadaver de uma senhora. Eu poderia ate escrever o que faziam com o cadaver estes estudantes (tambem com seus 18 anos), mas acho que chocaria os leitores deste blog. Tambem em uma comunidade do Orkut, vi diversos relatos das brincadeiras que faziam com os cadaveres durante os cursos.
Somos médicos, mas antes de tudo somos humanos e é nesta última condição que a natureza e a doença vem cobrar seu preço. Aumenta cada vez mais o número de colegas com problemas por causa do álcool e das drogas. Patologias mentais entre nós avançam em número e gravidade. Frieza, discussões, insensibilidade com a dor, e raiva das queixas frívolas dos nossos pacientes são cada vez mais comuns nas emergências em que trabalhamos com condições quase veterinárias.
Caro doutor. Esta discussao é ridicula. Medicos se drogam ha decadas. As primeiras experiencias acontecem nas faculdades onde tem acesso a medicamentos controlados. E nao é por depressao ou problemas psiquicos. Usam apenas por divertimento. Frieza é o que o paciente sente quando precisa de um medico, pois ele esta preocupado com o salario e nao com a profissao que tem.
Pobre do país cujos médicos estão doentes! Era neles que se depositava a esperança de alívio de um povo que agora percebe que ele, povo, cuidou muito mal dos seus próprios médicos. Estamos pedindo socorro a pessoas comuns, sem treinamento, mas nem por isso sem coração e vontade de ajudar.
Ahhhh sim! O povo cuidou mal dos medicos. Eu nao sei se devo rir agora ou se continuo a chorar. Os medicos sao formados para cuidar do povo, mas a culpa é do povo que nao cuidou dos medicos? O que o povo deveria fazer? Procurar atendimento so quando tivesse muito dinheiro para dar ao medico?
Alguém há que nos possa e queira ajudar?
Acho pouco provavel. O que tem em mente? Pedir doaçoes em dinheiro? Criar um "Medico esperança"?
Uma vez aquele que foi considerado o maior escritor de todos os tempos – James Joyce – disse que achava impossível escrever sem ofender as pessoas. Termino aqui. Longe de mim ofendê-los por mais tempo ou ter a audácia de pensar que Joyce pudesse estar errado.
Nao se preocupe! Eu nao me ofendo. Para ser ofendido eu precisaria ler um texto que tivesse algum conteudo serio.
Abraços doutor! Procure ajuda. Ha programas sociais no estado que podem ajuda-lo a manter a familia. Talvez um bolsa medico, ou coisa do genero. A esquerda tem ajudado muito os necessitados. Para isto, basta aliar-se a eles. Alias, o seu silencio durante todos os anos, enquanto via as pessoas morrerem por falta de estrutura, ajudou muito a esquerda.
Tenho visto que trafico de orgaos no Brasil da uma grana preta! Ja tentou?
Tenho visto que trafico de orgaos no Brasil da uma grana preta! Ja tentou?
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