Vejam o que foi publicado no Jornal de Poços - Terça-feira, 26 de março de 2002 - página 12. Isto demonstra que mesmo apos o escandalo dos transplantes, a Santa Casa continuou a negligenciar pacientes. So resta saber o motivo.
Corpo é retirado do Velório para autópsia
A família de José Antônio dos Santos teve um triste final de semana. Se não bastasse enfrentar a morte do rapaz de apenas 29 anos, teve que ver seu corpo ser retirado do Velório Municipal, onde já estava sendo velado, para passar por autópsia.
O problema do rapaz, segundo sua irmã, Ivonete dos Santos, começou no dia 23 de fevreiro deste ano quando José Antônio conduzia uma moto pelo bairro Philadelphia, próximo do Ceasa. Ao passar pela avenida ele teria sido colhido por um ônibus da empresa Rápido Luxo Campinas.
“Sofremos por mais de um mês com o problema do meu irmão e para todo o lado que a gente ia não encontrava ajuda. O hospital não deixava ninguém da família ficar com ele e a empresa Rápido Campinas não ajudava em nada. Desde que meu irmão sofreu o acidente ficou internado na CTI. No acidente ele bateu com a cabeça, mas clinicamente não tinha nada. Lá no hospital, na CTI, ele contraiu uma meningite.
A informação que obtivemos é que se pega esta doença de duas formas: por vírus ou bactéria. No caso do meu irmão ele pegou por bactéria e a infecção generalizada foi tomando conta de seu corpo”, explicou Ivonete.
A morte e a autópsia
Ivonete contou que o hospital da Santa Casa comunicou a família que seu irmão José Antônio havia morrido às 2 horas (da madrugada) de Domingo. Em seguida o corpo foi liberado, o Serviço Bom Pastor foi chamado para prepará-lo e conduzi-lo ao Velório Municipal. “Às 4 horas (da madrugada) o corpo do meu irmão já estava sendo velado no Velório Municipal. Por volta de meio-dia ocorreu um telefonema urgente da Funerária Municipal dizendo que o Dr. Calil, que era médico do meu irmão, não havia assinado o atestado de óbito. Tivemos que ir à delegacia prestar uma queixa para que os legistas fossem até o velório fazer a autópsia no corpo. Para nossa família foi muito constrangedor. O corpo estava sendo velado e foi retirado para autópsia. Eu nunca ouvi falar de um caso deste. Se havia a necessidade de fazer esta autópsia, eu não sou contra, mas o hospital não podia Ter liberado o corpo do meu irmão sem ter feito isto antes”, explicou Ivonete.
A família de José Antônio, segundo ela, quer que seja apurado quem liberou o corpo sabendo que em caso de morte violenta há a necessidade de se realizar a autópsia.
A remoção da CTI e a morte
Luiz Carlos dos Santos (irmão) contou que após o acidente ocorrido em 23 de fevereiro, seu irmão José Antônio foi socorrido e conduzido para a Santa Casa.
“Lá ele permaneceu internado um dia e meio na emergência e depois foi para a UTI. Eu fui visitá-lo dois dias depois e achei que a sua recuperação estava muito boa. Depois disso ele pegou uma infeção hospitalar que foi se agravando, chegando a meningite e pneumonia. Foram 29 dias de UTI.
Passado este tempo tiraram meu irmão da UTI e o levaram para o quarto, sem consultar a família. No quarto, infelizmente, ele não estava sendo atendido. Um dia antes da morte do meu irmão minha cunhada foi visitá-lo e ele estava descoberto, as janelas estavam abertas e um vento terrível entrava pelo quarto. O médico autorizou minha irmã a ficar junto dele, mas a Santa Casa não permitiu”, informou.
Segundo Luiz Carlos na madrugada de Domingo, quando seu irmão morreu, a Santa Casa entrou em contato com a família e pediu que fossem levadas roupas para trocá-lo. Em seguida sua irmã Ivonete acionou o Serviço Bom Pastor e uma hora e meia depois o corpo já estava sendo velado no Velório Municipal.
“Ele chegou no velório por volta de 5h30 e vi que o corpo estava meio quente. Eu fiquei com dúvidas e liguei para o médico Luiz Calil Jorge para saber o que tinha acontecido com o meu irmão e ele ficou horrorizado, assustado, porque ninguém tinha avisado sobre sua morte. Não o chamaram, não cumpriram o procedimento médico da Santa Casa que é chamar o neurocirurgião. Ele disse que isto estava muito errado porque foi um acidente muito violento e tinha que ter sido feita uma avaliação, uma autópsia e que o corpo teria que voltar para a Santa Casa”, explicou Luiz.
Ainda de acordo com ele, por volta de meio-dia o Serviço Bom Pastor foi até a Santa Casa para ver como estava o atestado de óbito de Luiz Antônio e foi informado que o médico Dr. Calil havia se recusado a assinar o documento.
“Daí tivemos que cumprir outro procedimento, ou seja, ir até a Delegacia de Polícia, lavrar um BO, para que o corpo fosse retirado do Velório para passar por uma autópsia. Isso foi feito na frente de todos amigos, parentes que vieram de longe. Mas, eles se negavam a enterrar o corpo se não fosse feita a autópsia”, explicou.
Luiz Carlos disse que houve boa vontade dos médicos legistas já que pelo procedimento correto o corpo teria que ser deixado em uma geladeira até o dia seguinte para só depois ser examinado.
“Devido as circunstâncias o médico legista se propôs a realizar o trabalho, mas ficou uma dúvida na gente: O que aconteceu na Santa Casa? Por que eles quebraram o procedimento médico? Por que não chamaram o Dr. Calil, que era médico do meu irmão?”, questionou.
Segundo Luiz Carlos até agora a família não teve acesso ao atestado de óbito e a informação que existe é que isto poderá ocorrer num prazo de 8 dias. Os familiares também não tiveram acesso ao laudo médico dos legistas.
Nota da redação: A reportagem do Jornal de Poços procurou o diretor administrativo do Hospital da Santa Casa, Carlos Henrique Marcondes, que informou que, por se tratar de um assunto clínico, quem deveria prestar informações era a médica, diretora clínica Dra. Regina Ciofi. A médica foi procurada em seu consultório pela reportagem e mandou informar que “estava muito ocupada” e que só poderia falar sobre o caso no dia de hoje.
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