O que a mentira faz nao é mesmo?
Em um determinado momento, os advogados perceberam que cada vez que seus clientes falavam, complicavam mais a historia. Como resolver isso? Bom, se tudo o que dizem fosse verdade e nada de errado fizeram, nao precisariam fazer nada. Bastaria contar a historia toda vez que fossem questionados. As respostas seriam as mesmas e nao causariam problema nenhum.
O problema é justamente este. A cada fala uma historia, um escorregao, uma revelaçao. Logo, a soluçao foi centralizar tudo em uma empresa de assessoria de imprensa, que montou um roteiro orientado pelos advogados. Funciona na base do "isso pode" e "isso nao pode". O objetivo é unificar o discurso.
Entrevista? Nao... fale com a minha assessoria de imprensa! Chique!
A assessoria tambem esta encarregada de distribuir releases e fazer com que choros e velas sejam publicados em favor dos acusados. Fotos, videos, gestos, movimentos - tudo controlado pela assessoria. Bons tempos quando um reu era apenas um reu. Hoje um reu é pop star cheio de marketing. Com uma boa assessoria, podem até convencer o juri que Paulinho é quem matou Alvaro.
Se forem condenados e presos (o que convenhamos é muito dificil), precisarao de uma empresa de relaçoes publicas para lidar com os colegas detentos. Sabe como é né? Preso no Brasil que mata criança pode ter um tratamento um tanto duro, no sentido literal da palavra.
Se forem absolvidos, estaremos cumprindo a tradiçao no Brasil.
Qual tradiçao?
A tradiçao é de que sobra apenas para os peixinhos. Os tubaroes escapam.
No Brasil, ninguem poe a mao em chefe de quadrilha. Que diga Mosconi!
Mas para infelicidade deste sujeito, a assessoria nao esta fazendo um bom trabalho.
A frase de impacto usado em uma recente entrevista diz: "Salvei centenas de vidas e isso nao é crime!"
Muito boa!! Nos anos 70 seria um boom! Quem seria o debil mental que afirmaria que salvar vidas é crime? Logo a frase nos força a olhar para Ianhez como sendo um inocente!
Voce é contra ou a favor da vida? Voce ja ouviu alguem dizer "sou contra"?
Vejamos a realidade da frase:
Segundo o proprio Alvaro Ianhez, foram realizados 204 transplantes em Poços de Caldas. Eu afirmo que destes 204 uma parte nao sobreviveu mais de 30 dias. Outra parte nao conseguiu ultrapassar 3 meses de transplando e atualmente nao sabemos quantos pacientes de Ianhez ainda estao vivos. Uma das pacientes que recebeu um rim de Paulinho morreu pouco tempo depois.
Mas...se o fato de colocar um rim em uma pessoa significa "salvar", independente do resultado deste procedimento, entao sou obrigado a concordar com Ianhez.
Salvar vida significa um resultado do implante satisfatorio, e uma vida com qualidade, superior a 10 anos. Com base nisso, afinal, quantas centenas de pacientes foram salvos? Alvaro poderia nos fornecer uma lista com estes nomes para termos uma ideia da realidade destas centenas. No Reino Unido, segundo estatisticas publicadas pelo NHS (SUS Ingles) deste ano, 75% dos pacientes transplantados renais sobrevivem ao primeiro implante por mais de 10 anos. Dentro desta estatistica, 153 pacientes (dos 204) de Alvaro deveriam estar vivos para que ele pudesse dizer que é um salvador de vidas.
Esperamos que assessoria nos mostre as centenas de pacientes salvos, e nos forneça nome completo, quantidade de implantes e a data de implante. Enquanto nao mostrar isso, as "centenas" serao apenas uma frase de marketing.
Analisando sob outro ponto de vista, o fato de salvar "centenas" - se fosse verdade - nao daria a Ianhez o direito de abreviar ou simplesmente exterminar outras "centenas". Se for assim, criaremos uma tabela de compensaçao humana. Seria mais ou menos assim:
Hoje eu ajudei um deficiente visual a atravessar a rua. Amanha tenho credito para empurrar um debaixo de um caminhao.
Mas Paulo, qual a logica de matar um para salvar outro?
A logica é bastante simples. A media de uma cirurgia comuns pagas pelo SUS aos hospitais publicos gira em torno de 3 mil reais. Um unico transplante de rim, rende ao medico e ao hospital mais de 30 mil. Mas para fazer um transplante, é preciso um doador. E sem doador nao tem nem os 30 mil e nem os 3 mil! Logo, quanto maior o numero de transplante realizado, maior é o faturamento. E tudo isto nao depende da qualidade do transplante. Como revelou o medico, importa a quantidade e nao a qualidade. O dinheiro é pago tanto no sucesso quanto no fracasso.
Ha ainda um pseudo apelo humanitario. Precisamos salvar vidas! Transplantes salvam! Sera??
Vamos fazer uma analise rapida e tentar entender estes numeros. Em primeiro lugar é preciso dizer que muitos brasileiros hoje estao precisando acionar a defensoria publica para conseguir um leito de UTI. Nao existem estes dados no Brasil, mas acredito que pelo menos 1 milhao de brasileiros sejam atendidos todos os dias, em todo o pais. Parte deste milhao precisa de uma UTI e morre antes da decisao judicial ser concedida. Atualmente o Brasil tem 25.367 leitos de UTI e todos estao ocupados. Reportagens apontam mortes até mesmo para pacientes com decisao juidical nas maos e que nao sao cumpridas. Eu estimo que por volta de 100 a 150 mil brasileiros morram todos os anos por falta de uma UTI. Estou sendo generoso!
A fila de transplante hoje é de 30 mil brasileiros (talves um pouco mais). Ha dois anos a fila era de 64 mil. O governo deu uma navalhada e reduziu pela metade num passo de magica. Destes 30 mil, muitos nao conseguirao aguardar por um orgao, devido as condiçoes graves de saude e tambem dos desvios de orgaos das filas (trafico de orgaos). Mas os maiores investimentos estao na area de transplantes.
Por que as vidas de 30 mil brasileiros, valem mais do que as vidas de outros 100 mil brasileiros?
Por que a saude publica destina tantas esforços para salvar 30 mil e negligencia os outros 100 mil?
Ahh Paulo... voce entao acha que os 100 mil sao mais importantes que os 30 mil?
Claro que nao! Acho que todos sao importantes. E é esta a minha revolta. Os 30 mil sao tratados com diferença. Os esforços sao maiores para salva-los. E por qual motivo? Eles sao mais brasileiros que os demais? Nao! O motivo é o dinheiro que estes 30 mil geram para os profissionais e estabelecimentos de saude. Os 100 mil nao geram dinheiro algum. Vamos etiquetar os brasileiros?
Veja este exemplo: O SUS paga 500 reais por um parto, e 30 mil por um transplante renal. Em um parto o risco de morte é pequeno, e se ocorrer, as chances do medico sofrer um processo é gigantesca. Num transplante, o medico nao tem risco nenhum! Se o paciente morrer, morreu! As justificativas sao simples: "Estava a beira da morte... tentamos de tudo mas ele morreu".
Se voce fosse medico, preferiria fazer um parto ou um transplante? Preferiria ganhar R$ 500 reais e correr risco de ser processado em caso de morte, ou receber R$ 30 mil sem risco nenhum?
Bem, me estendi bastante neste ponto, mas acho importante.
Continuando com Ianhez, ele afirmou (a assessoria afirmou) que nao havia fluxo sanguineo no cerebro do Paulinho e o caso era irreversivel. Bom amigos, ai entra outra pegadinha:
Paulinho entrou no hospital no dia 19 de abril de 2000, com traumatismo craniano moderado. Como eu sei? Os medicos documentaram isso atraves da escala de Glasglow. A escala vai de 3 a 15 sendo 3 o indice mais grave. Paulinho estava em 10. A tomografia que poderia nos dizer em que situaçao ele chegou ao hospital, desapareceu e continua desaparecida até hoje. O sumiço de documentos que demonstrariam a realidade dos fatos, por si so, ja é uma prova de ma fé da equipe medica. Se era mesmo grave a situaçao, por que sumir com os exames?
No dia 20 pela manha, todos os tratamentos que poderiam trazer algum beneficio ao Paulinho foram suspensos. Neste momento Alvaro assumiu a situaçao, visando manter os seus orgaos intactos para transplante, nao se preocupando mais com a saude do meu filho. Alvaro passou a medica-lo e acompanha-lo excluindo qualquer possibilidade de recuperaçao, visando unica e exclusivamente a obtençao dos orgaos. Neste mesmo dia 20, Alvaro realizou diagnostico de morte encefalica e comprovou que Paulinho ainda estava vivo, fato confirmado por outro medico que tambem responde por homicidio. No dia seguinte, sem ainda ter a confirmaçao da morte, transferiu o Paulinho para a Santa Casa, onde os orgaos foram retirados.
Quando o primeiro - e unico - diagnostico clinico foi realizado, Paulinho estava megulhado em uma overdose de sedativos, confirmado em depoimento pelo proprio neurologista! A lei determina 2 diagnosticos clinicos, sem que o paciente esteja sob efeito de qualquer sedativo! Mesmo sedado, Paulinho foi submetido a sessoes de tortura tais como: O aparelho de respiraçao artificial foi desligado por 10 minutos, jogaram agua a 0 graus centrigados em seu ouvido, espetaram diversas partes do corpo para observar se ele reagia. Ora... sedado??? Como alguem em overdose de Midazolam pode reagir????
Se Alvaro esta dizendo que a situaçao era irreversivel, eu nao nao duvido! Quando as possibilidades de salva-lo foram ignoradas, nao poderiamos esperar outro resultado senao o obito. Isto é mais do que correto. O que Alvaro esconde é justamente este historico! Desde quando Paulinho estava em condiçoes irreversiveis? Ha ainda na denuncia do Ministerio Publico, o relato de que a arteria carotidea de Paulinho foi completamente danificada, sem explicaçao nenhuma para o fato!
Proponho ao Alvaro que me permita danificar sua arteria carotidea, sem nenhum tratamento visando sana-la, para ver o resultado. Aceita? Aposto que entrara em quadro irreversivel em algumas horas.
O argumento mais ridiculo é "Erros burocraticos que ocorrem nos maiores hospitais". Muito bom! Se os grandes hospitais estao cometendo estes mesmos erros burocraticos, estamos diante novamente de uma afirmaçao de que estao matando pacientes em todo o pais. E a dra. Virginia Soares confirma! So ela extinguiu mais de 300 pacientes! E o CFM e os CRMs estao de acordo com esta afirmaçao, pois estao apoiando Ianhez.
Mas se existem estes erros burocraticos nos maiores hospitais, citado por Ianhez, gostaria de que me mostrassem uma descriçao para cirurgia de retirada de orgaos em que o medico tenha escrito que o paciente estava SEM M.E. (Morte Encefalica). Ou ainda que o anestesista tenha classificado o mesmo paciente em ASA V (paciente vivo com perspectiva de obito em 24 horas) momentos antes de lhe extirpar os rins. Eu tambem gostaria de ver documentos relatando anestesia geral em cadaveres!
Se estes erros "burocraticos" sao tao corriqueiros assim, gostaria de ver alguns exemplos no tribunal do juri dia 31. Tem?
Acho que assessoria poderia ser melhor! Dr. Alvaro, vai uma sugestao: Mosconi gastou 15 milhoes para se livrar de sonegaçao de impostos. Peça uma ajuda a ele e contrate Duda Mendonça! Ele sim podera salva-lo. Pelo menos uma vez na vida, faça algo bem feito. Se é para ter assessoria, que tenha uma assessoria de ponta. Padrao Ouro!
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